O mercado fonográfico brasileiro apresentou sua maior taxa de crescimento em mais de uma década, registrando alta de 17,9% em 2017, segundo relatório divulgado nesta terça-feira pela Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI) e pela Pró-Música. No mundo, a receita de streaming de música ultrapassa pela primeira vez vendas físicas e a alta ficou em 8,1%.

O fator determinante para o crescimento do setor fonográfico no Brasil, assim como em nível global, foi o segmento de streaming. Em comparação com 2016, a alta foi de 64%, representando em 2017 US$ 162,8 milhões.

— O streaming não é futuro, é o presente da indústria musical. Apesar de ainda ser muito incipiente no Brasil, é o modelo de negócio que mais cresce no mundo e em nosso país — afirmou Paulo Rosa, diretor da Pró-Música.

O relatório revelou ainda que entre as 50 músicas mais acessadas no país, 45 são de artistas brasileiros. Os dados são das plataformas Apple Music, Deezer, Google Play, Napster e Spotify.

O bom resultado vem após anos de queda, como em 2016, quando houve retração de 2,8% no mercado brasileiro. A receita total da indústria da música brasileira em 2017 foi de US$ 295,8 milhões, o que torna o país o maior mercado da América Latina — e 9º no ranking global.

YOUTUBE ‘INSATISFATÓRIO’

A receita total do setor leva em conta combinação das vendas digitais, físicas, execuções públicas e direitos de sincronização (licenciamento de músicas para produtos audiovisuais). A área digital, principal responsável pelo crescimento, representou 60,4% do mercado total movimentando US$ 178,6 milhões. Alta de 46,4% em relação a 2016.

Os bons números do streaming garantiram o crescimento frente uma queda 31% dos downloads de 56% das vendas físicas.

O relatório da IFPI aponta ainda para uma distorção produzida por modelos de negócios como o do YouTube, chamada de “value gap” (lacuna de valor). O termo se refere à diferença entre o que usuários de serviços como o da plataforma de vídeo (de conteúdo gerado pelos próprios usuários) consomem de música ali e o que eles retornam em dinheiro para o mercado.

Enquanto no Spotify foi gerada uma receita de US$ 20 por usuário em 2017, o Youtube gerou menos de US$ 1. Segundo o relatório, essa remuneração gerada pela plataforma é “insatisfatória”.

O que explica a diferença é uma ferramenta da legislação americana criada em 1998, chamada de “safe harbour” (“porto seguro”). Ela permite que serviços como o Youtube, que não trabalham com conteúdo gerado por ele, não se responsabilizem diretamente pelo que veicula — dessa forma, eles impõem acordos em condições muito menos rentáveis do que os fechados com outros serviçoes de streaming.