Em um feriado melancólico de Finados, Clarice falcão traz para o Teatro Rival o show de apoio do seu mais novo CD, chamado “Problema Meu”, lançado em Fevereiro desse ano. A casa teve lotação nos dois dias e por mais que a maioria do público da cantora seja adolescente, via-se público de todas as faixas etárias, gêneros e etnias. A diversidade foi latente quando a abertura do Buraco da Lacraia Cabaré On Ice tomou o palco e misturou a encenação com bases de Karaokê, levando críticas ácidas e humor aos presentes. O palco de Clarice estava armado.

A apresentação de Clarice é feita de projeções, roupas brancas e um pouquinho de brilho porque ninguém é de ferro, né? O show começa com “Irônico” e sua vibe de Carnaval futurista mostrando uma Clarice desapegada da menina que encontra desilusões em seu primeiro álbum, já colocando todo mundo pra dançar. A dualidade das músicas “Eu Escolhi Você” e “Eu Esqueci Você” traz uma veia humorística de aparência despretensiosa e singela que permeia o show todo. Antes de dizer as primeiras palavras para o público, ainda temos espaço para ouvir a rápida e bonachona “Vinheta”.

O humor de Clarice é similar ao que a moça apresentava na Porta dos Fundos, algo que pode parecer simplório, mas é de uma suavidade bem singular e característica. O show da moça também tem espaço para covers muito interessantes como “L’amour Toujours (I’ll Fly With You)” e os cômicos “Eu Sou Sthefany” (No qual Clarice faz um falso discurso sério sobre músicas de outros artistas que parece que são escritas para ou por pessoas que se sentem conversando com as canções) e o medley de “Essa Tal Liberdade” (Alexandre Pires) e “Mineirinho” (Só pra Contrariar), no qual ela fala que é pros casais dançarem agarradinhos, porque é música de amor.

Mas tem espaço pra Clarice falar “sério”. Em músicas como “Se Esse Bar Fechar”, “O Que eu Bebi” e “Capitão Gancho” mostram que Clarice também consegue ser minimamente sóbria, mas é só minimamente mesmo, porque até nos momentos mais densos do show, as letras deixam transparecer uma ironia contundente. E veja só, até espaço pra música desconhecida tem! Clarice nos informa que o show parecia pequeno, então colocaram sobras do segundo CD no show, como “Robespierre”.

Clarice brilha mesmo é nos momentos mais leves do seu repertório. Canções como a incrível e melodiosa “Eu me Lembro” (aonde um casal divaga sobre aonde e como eles se conheceram de forma totalmente errônea nas versões), “Clarice” (Aonde ela canta sobre alguém criticando as próprias obras dela) e a dance music maravilhosa que encerra a primeira parte do show “Como É que eu vou dizer que acabou?” (Que mostra Clarice tentando dizer pra alguém que o relacionamento terminara, porém sem sucesso), mostram o melhor dela: uma musicalidade despretensiosa em seu cerne, mas com toques bastante ricos vindo por todos os lados.

Voltando ao palco para o bis aos gritos de “Fora, Temer”, Clarice e banda executam “Monomania” e “Vagabunda”, aonde a (ótima e precisa) banda vai saindo um por um até sobrar somente a moça no palco. Uma apresentação que esbanja detalhe e riqueza justamente por se apropriar do simples e não querer dar passos maiores do que podem alcançar. Assim, Clarice vai construindo uma carreira precisa e galgando seus voos de forma ordenada e graciosa.


FOTOGALERIA // Gabriela Nogueira