Misturando dois gêneros bem cultuados no Brasil (o samba e o rap), o Festival inédito SambaRap trouxe, em sua primeira edição, artistas de renome e novos nomes de peso para o palco já consagrado do Circo Voador. Em sua primeira noite, Karol Conká e Elza Soares destilaram visibilidade feminina e negra no palco, enquanto na segunda, Emicida, Jongo da Serrinha e o Império Serrano destilaram negritude e ancestralidade.

DIA 1

Com a casa bem cheia, Karol Conká mostra porque é uma das vozes femininas mais bem vistas do circuito do rap nacional. Cheia de hits como “Do Gueto ao Luxo”, “Lalá” e “Gandaia”. Com um palco minimalista (apenas ela e o DJ) e com estruturas musicais muito bem definidas, a gaúcha colocou todo mundo pra dançar durante seus quarenta minutos de palco. Além de toda o profissionalismo da artista, o Circo Voador mostrou porque é uma das casas mais bem preparadas e agradáveis do país, com um sistema de som que contemplava todas as nuances graves do som de palco. O show foi encerrado com o sucesso mór de “Tombei”.

Karol Conka durante SambaRap © Ellen Pederçane / Zimel

Após trinta minutos, é a vez de Elza Soares estrear o espetáculo “A voz e a Máquina” em casa. O show, que conta com muitos elementos eletrônicos e projeções bem colocadas, faz um contraponto na carreira de Elza, que sempre focou sua carreira em estilos como o Samba Rock e adjacentes, para um lugar de batidas eletrônicas e muito experimentalismo, chegando algumas vezes a flertar com estilos como IDM e Drumfunk. Clássicos como “O Tempo Não Para” foram repaginados nesta versão, bem como músicas como “A Carne”. Encerrando com “A Mulher do Fim do Mundo”, Elza fez um show exótico, mas com muito vigor e intensidade.

DIA 2

Após uma apresentação fervorosa e recheada de ancestralidade do Jongo da Serrinha, um dos precursores do samba e da construção da cultura popular brasileira, Emicida sobe ao palco para encerrar a turnê do seu mais recente álbum, “Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa…”. Com um show perfeito no sentido estético (com luzes interessantes, trabalho cênico levado à perfeição e indumentárias complementares), Emicida faz toda a parte musical ficar interessante com discursos afiados e rimas poderosas, que podem ser vistas em músicas como “Mãe, “Triunfo” e “Mandume”. Encerrando o show com “Levanta e Anda”, o rapper mostra porque é um dos maiores em atividade no Brasil e já deixa o público ansioso para o próximo.

Pouco tempo depois, a bateria do G.R.E.S. Império Serrano adentra ao palco do Circo Voador para cantar alguns dos sambas gloriosos que a serrinha já desfilou pela avenida, como o inabalável “Aquarela Brasileira” e “Bumbum Pratingumdum Prungundum”, bem como clássicos das coirmãs, como “Atrás da Verde e Rosa só não vai quem já Morreu” (Mangueira), Liberdade, Liberdade, Abre as Asas sobre Nós (Imperatriz Leopoldinense), “Peguei um Ita no Norte” (Salgueiro) e “Sonhar não Custa Nada! Ou quase nada…” (Mocidade Independente de Padre Miguel). Levando o setor rítmico, mestre sala e porta bandeira e corpo de passistas, o Reizinho de Madureira fez uma bonita festa de encerramento, com direito a apresentação do samba de 2018 que irá concorrer na avenida, “O Império do Samba na Rota da China”, ser apresentado na pista, junto com os que permaneceram.

O saldo dos dois dias de SambaRap Festival foi muito positivo. Pois além de tocar em pautas importantes como visibilidade feminina, racismo, poder popular muitas outras, tudo era muito bem guarnecido de incríveis artistas e música de primeira num lugar mais especial possível. Ficamos no aguardo de novas edições do festival, que juntou primorosamente o novo e o antigo, o tradicional e o inovador para criar um evento de pura grandiosidade.

19 e 20 de janeiro de 2018
Circo Voador, Rio de Janeiro