Das bandas do rock alternativo dos anos 1990, os Smashing Pumpkins foram a que mais pretensão (e condições) tinha para fazer algo grandioso, como os monumentos do rock de duas décadas antes. A partir dos anos 2000, quando sua formação original se desfaz, entre brigas e problemas com drogas, ela se torna o volátil veículo para as ideias do líder, vocalista e guitarrista Billy Corgan, em discos muito aguardados, mas com pouco além do bom: “Zeitgeist” (2007), “Oceania” (2012) e “Monuments to an elegy” (2014).

Até por seu gigantesco título, “Shiny and oh so bright, Vol 1: no past, no future, no sun”, lançado na última sexta-feira, tinha tudo para ser mais uma tentativa solitária de Corgan de talhar o nome dos Pumpkins em pedra sagrada. Mas é diferente. Pela primeira vez desde 2000, um disco do grupo tem Corgan, James Iha (guitarra) e Jimmy Chamberlain (bateria) – apenas a baixista D’Arcy Wretzky preferiu ficar de fora, e Corgan assumiu as quatro cordas no estúdio. E dois: é um disco produzido pelo midas Rick Rubin.

Seria demais exigir que a centelha mágica de álbuns como “Siamese dream”(1993) e “Mellon collie and the infinite sadness” (1995) estivesse lá: são os mesmos músicos, só que mais experientes – e boa parte daqueles álbuns dos 1990 tem a ver com ingenuidade, corações partidos e aventura. Mas é empolgante a simulação dos jovens Pumpkins feita por essa banda. Melhor compositor e cantor do que antes, Billy Corgan orquestrou com os músicos e Rubin um disco conciso, com oito buriladas faixas, em que não há espaço para o erro – e no qual os acertos fora da curva também não existem.

O single “Knights of Malta” tem o melhor do lado setentista e roqueiro do grupo, com corinho gospel, letra meio hippie, mas nenhum exagero – nunca se ouviu o quarteto soar tão redondo, com belo som de guitarras. “Silvery sometimes (golden)” avança pelo lado do Cure dos 1980, com melodia e ambiências. Já “Travels” tende a ser confundida com o genérico rock dos 1990, mas acaba sendo salva pela maestria de Corgan na composição.

Na pesada “Solara” é que se percebe a presença de Jimmy Chamberlain, com suas viradas de bateria de tirar o fôlego e base propulsora para os ataques de guitarra. Melancólica em um disco em geral radiante, “Alienation” que Billy Corgan é capaz de fazer uma balada.

No caminho certo: entre rocks potentes (“Marchin’ on”, por sinal, é puro “Siamese dream”, só que sem a névoa) e faixas mais reflexivas, o primeiro volume de “Shiny and oh…” faz pensar que os Smashing Pumpkins ainda têm a dizer nesses novos e confusos tempos do rock – basta continuar neste caminho e contar com a sorte da inspiração para tirá-los um pouco da trilha, quando necessário.

Texto de Silvio Essinger