No último show no Rio de Janeiro, Emicida lotou um Circo Voador que explodia de gente, tudo bem que era um evento gratuito e o artista, na crescente positiva de sua carreira, não faria diferente. Porém, no último sábado, o rapper voltou ao mesmo lugar que consagrara da última vez e novamente encheu a lona do Circo. Não se esgotou a capacidade como da última vez, mas o Circo respirava ansioso por mais uma apresentação de Leandro Roque de Oliveira.

Após uma abertura muito interessante e agressiva do rapper também paulista Kamau, Emicida invade o palco às 1h30 e após a Intro entrega a agressiva Boa Esperança, incendiando o Circo Voador e começando a apresentação com o pé direito. Na fase inicial do show, também foram destiladas as ótimas Bang!, Gueto e a incrivelmente tocante Mãe. Com discursos corretos e interessantes, Emicida destila todas as mazelas e dificuldades de ser negro no Brasil (e no mundo), exploração de séculos da raça, marginalização pela cor, etc. Tudo muito consciente e tudo muito bem falado. Sem discursar pelos cotovelos ou sem desentender as posições defendidas. Um dos grandes trunfos do rapper.

A dupla Madagascar e Hoje Cedo ganham muita carga orgânica, haja vista o paulista carrega consigo, para esse ponto da carreira, uma banda inteira ao invés de somente um DJ com pick-ups. Com ótimos timbres e escolhas de instrumentos e músicos parecendo ter sido feito à dedo, Emicida engrandece sua apresentação com esse apuramento. Outro grande momento da apresentação é o cover de Quero Me Encontrar, de Cartola e que traz o sentimento do samba escondido também na sua carga musical.

Mas Emicida, rapper na essência, faz da parte final de seu show um grande ode ao estilo, destilando músicas como o pot-pourri Zica, Vai lá/Nóiz/Triunfo, a incrível Mandume (Inclusive com a participação de Drik Barbosa ao vivo, destilando uma das rimas mais agressivas e impactantes do álbum todo) e o cover improvisado e de muito bom gosto de Nosso Sonho, de Claudinho & Bochecha. O encore continuou a agressão com E.M.I.C.I.D.A., Rinha, Levanta e Anda e terminou quase duas horas de show com Salve Black.

Em mais uma passagem triunfante do rapper paulista no Rio de Janeiro, a legião inabalável de fãs mais uma vez compareceu e fez coro aos versos cheios de ódio pensante de Emicida em um formato que sofistica de uma forma muito interessante o viés musical do artista. É aguardado o retorno do artista em breve, pois o mesmo ainda tem muita lenha pra queimar, musica e liricamente.