“Se esse avião pousasse nas nuvens a gente andaria por estrelas à noite”. Os versos que abrem o novo álbum de Gabriel Gonti já começam do alto, numa reflexão surgida enquanto o artista viajava e escrevia — inspirado pela paisagem que se tem desde o céu — as frases que viriam se tornar o primeiro single de “Gonti” (Deck). O novo registro, segundo de sua carreira, já está disponível nos aplicativos de música e mostra um Gabriel que coletou influências ao redor do Brasil para entregar uma legítima representação da nova MPB.

Nascido e criado no interior de Minas Gerais, Gabriel Gonti teve o primeiro contato na música ainda criança, quando ganhou seu primeiro violão. Desde então, cresceu explorando o instrumento e sendo inspirado por seu pai — músico amador — que sempre tocava clássicos do Clube da Esquina, Skank, Caetano Veloso etc. Ao que aprendeu dentro de casa, Gonti somou a paixão por grandes nomes da música global, parcerias com artistas em evidência e encontrou-se num estilo próprio, que reflete bem toda bagagem reunida desde diferentes fontes.

“Nuvens”, que abre o disco, foi também o primeiro single a ser lançado, e logo apresenta parte do time de compositores que contribui ao longo do registro. Desse modo, o mineiro se junta a Ana Caetano, do duo Anavitória, Peu Del Rey e Dino Teixeira para refletir sobre as paisagens quase oníricas que estimulam pensamentos sobre saudade e relacionamentos. A música também ganhou um clipe, dirigido por Ygor de Oliveira, que se passa em cenários como o alto da Serra da Mantiqueira e dentro da cabine de um avião.

Sem baixar o nível de voo, “Céu do Sul” (Gonti/Del Rey/Túlio Airold) vem em sequência, apresentando uma pegada que remete ao britpop mas com elementos brasileiros, que fazem sumir o tempo nublado que normalmente paira sobre os cantos ingleses. Gravada com violão de náilon — a fim de reforçar a pegada tropical — e com apurados sintetizadores de Herbert Medeiros, a música aborda a rotina despreocupada de lugares como a catarinense praia Brava, elencando em seu jogo de palavras coisas como o calor, a areia e a brisa da beira-mar.

As parcerias de “Gonti” não se limitam às composições, e Ana Gabriela completa um dueto especial em “A Gente Se Dá Bem”. “Sou amigo da Ana Gabriela há um tempo e pela nossa sintonia já era subentendido que uma hora faríamos uma música juntos. Eu já estava gravando as canções do disco quando a Lorena Chaves me deu essa letra de presente. Achei a cara da Ana e chamei-a pra gravar comigo”, explica o cantor sobre a ideia de convidar a intérprete de hits como “Céu Azul” e “Mais de Nós” para participar da faixa. Com ritmo mais lento, guitarras cheias de reverb e beats perfeitos para rimas como as que são típicas de Ana, não é surpresa que o resultado tenha animado Gabriel, que considera essa umas das suas favoritas do repertório.

As nuances das relações humanas e a passagem do tempo — aparentemente cada vez mais apressado — são temas recorrentes, e Gabriel soube extrair e juntar as diferentes vivências e experiências de seus amigos e parceiros para construir letras que abordassem de forma ampla essas reflexões. “Eu, Peu, Jéf Souza e Pepê Santos sentamos para compor na minha casa. O Jéf tinha o verso ‘você está correndo tanto e eu também’ em mente e começamos a trabalhar em torno disso. O resultado foi uma música que fala sobre essa ideia do tempo passar e só darmos conta disso depois”, explica sobre “Tempo Que Era Seu”, que traz uma progressão melódica que lembra a estrutura usada em “My Stupid Mouth”, de John Mayer. A temática cronológica ainda segue presente em “Postergar”, composta por Deco Martins (Hotelo) e “Cores Novas”, que aborda um relacionamento a distância.

A etapa final do voo de Gabriel começa em “Lua Nova”. Sobre a temática celeste, o cantor reforça ser “inevitável se inspirar no céu, nas nuvens, em elementos aéreos. Essas coisas estão sempre presentes em minha mente quando eu componho”. “Sorte de quem amou e fez parar o tempo, as horas, pra te ter”, sintetiza seu refrão.

Por fim há também a bônus “Canção Para o Meu Cachorro”. Fugindo ligeiramente da temática das outras músicas, essa faixa surgiu a partir de memórias afetivas que Gabriel tinha do cachorro de seu pai. “Eu e o Peu quisemos brincar com um tema mais incomum. Lembrei do meu pai, que tinha uma relação muito intensa com a sua Kika e pensei, também, no cachorro da minha namorada, que curiosamente desenvolvi um carinho muito forte por ele”, conta.

Produzido por Túlio Airold, “Gonti” foi gravado no estúdio No Santo Som, em Campinas (SP). O disco expressa muito das experiências de Gabriel e seus amigos de todo o Brasil: Peu e Dino são baianos, Deco é paulistano e Ana Caetano, tocantinense. Jéf Souza e Pepê Santos, gaúcho e mineiro, respectivamente. Para percorrer distâncias tão longas e juntar inspirações tão distintas sem perder a agilidade, o ar era o meio mais rápido de se locomover. “Sei que fiz o meu melhor e quero que as pessoas recebam esse lançamento de forma tão especial quanto o concebi”, explica, modesto, Gabriel. Em sua melhor fase, porém, a previsão é de céu de brigadeiro.