Play (LP) e Compact Disc (CD) travaram um duelo pelo mercado da música, principalmente na primeira metade dos anos 1990. O vinil, então considerado obsoleto, foi derrotado. Sumiu do comércio. Com a chegada do século XXI e as novas mídias digitais, o CD teve praticamente o mesmo destino. Porém, em uma onda global de saudosismo, a venda dos “bolachões” aumentou em todo o mundo na última década. Por toda a região, há sobreviventes dos tempos de ouro da indústria fonográfica, amantes de vinis e LPs que resistem às novidades da tecnologia apostando na fidelidade do público às antigas mídias.

A Tower Discos, no Shopping São Luiz (o “shopping dos peixinhos”), em Madureira, é um desses redutos. Tudo graças à paixão que o Senhor Sá (“Só me chamam por esse nome, é assim que eu gosto de ser chamado”), proprietário do estabelecimento, nutre pelos discos. Ele garante: ainda é um bom negócio.

— Abri a loja em 1984. Sempre vendi vinil. Tenho cerca de 35 mil discos. Juntando com o estoque que está na minha casa, são 65 mil. de todos os estilos musicais. O mercado está crescendo, tanto que hoje vendo 80% a mais, se compararmos à metade dos anos 1990, quando o comércio de discos começou a cair. O que foi sepultado é o CD. Quase ninguém mais compra — decreta Sá.

Para ele, isso deve-se ao fato de que houve uma inversão em relação ao pensamento dos anos 1990.

— O vinil se tornou algo clássico, elegante. E o CD agora é ultrapassado. A valorização é clara. Enquanto eu vendo um disco, em média, por R$ 100, o CD custa em torno de R$ 10, R$ 15 — cita.

Há exemplares mais caros de long plays no acervo de Sá que ultrapassam (e muito) esse valor médio. Algumas raridades são vendidas por cerca de R$ 10 mil. É o caso do álbum “Kaya”, de Bob Marley, lançado em 1978, em versão importada, onde há um pé de Cannabis na contracapa.

Só tenho vinis originais. Não trabalho com relançamento. Compro e troco também, inclusive CDs. Passei por várias crises de mercado, mas nunca desanimei. Sempre investi na loja. Por isso vem cliente aqui da Zona Sul e até de fora do Brasil. Desde que abri a loja, surgiram mais umas 20 parecidas aqui no shopping. Todas fecharam. Existe uma diferença entre o cara que é do ramo e o cara que está no ramo — orgulha-se Sá, que trabalha com a mulher, Maria Helena Vinote.

PAIXÃO RETRÔ POR ANTIGAS MÍDIAS

Antigas assim como Tower Discos, a CD Stop (antiga Galeria da Música) funciona no shopping dos peixinhos, em Madureira. Diferentemente dos proprietários da loja vizinha, outro casal de comerciantes, Bárbara de Luca e Marcelo Gomes Lázaro, há 20 anos no local, aposta nos CDs.

— Temos poucos vinis. Vendemos mais CDs. O vinil se tornou algo caro, cultuado. Nosso público, que compra as duas mídias, é composto por músicos, gente de fãs-clubes e pessoas na faixa dos 30 aos 40 anos — relata Lázaro. — Não podemos dizer que está fácil. Vivemos uma crise geral. Há dez anos, o mercado de CDs era bom, mas, desde então, houve uma queda, sim. Esses produtos são para uma clientela muito específica — acrescenta o comerciante.

Bárbara conta que seu pai, Orestes de Luca, também trabalhava no ramo.

— Ele já teve seis lojas de discos e CDs, sendo cinco na região. Duas em Madureira e três no Méier. Hoje, é proprietário de uma apenas, no Méier: a Venezinha Discos — diz.

Moradores de Rocha Miranda, os irmãos DJs Ricardo e Rogerio Ignacio da Silva, proprietários da Only Music Records, conseguiram fazer uma clientela fiel, formada, em sua maioria, por DJs. Além dos discos, a dupla vende acessórios para esse público. Por motivos financeiros, os dois decidiram, há três anos, transferir a loja, inaugurada em 1994, em Madureira, para a Rua Sete de Setembro, no Centro.

— Conseguimos ampliar nossa clientela, porque no Centro circulam mais turistas, músicos, uma turma da Zona Sul e da Tijuca, sempre em busca de vinis e acessórios. Continuamos vendendo discos, mesmo quando o mercado estava em crise. Foi quando fizemos nosso grande estoque. Hoje temos cerca de 50 mil vinis — afirma Rogério.

Colecionador, o historiador William Mathias Moreira, morador da Penha, é um dos que vivem à procura de exemplares que não estão no acervo.

— Na minha infância havia muitos sebos na Penha e em Madureira. Hoje, infelizmente, acabou tudo — lamenta ele, que fundou o coletivo Quartier Penha Sound System, onde se reúne com os amigos.