Finalmente estamos no fim de semana sagrado de todo jovem indie no Brasil: o Lollapalooza 2019 chegou com tudo. Desde ontem até domingo (05 a 07 de abril), o Autódromo José Carlos Pace, em Interlagos, está tomado de todo tipo de gente – idosos, crianças e muitos adolescentes – reunidos para curtir as mais diversas bandas e artistas. Quem encara o desafio de passear à pé uma pista para carros de corrida encontra ótimas surpresas dentro do festival.

Além das apresentações musicais, o festival oferece ativações diversas, desde um estúdio de tatuagens até a tradicional roda gigante, assim como distribuição de squeezes e água gratuitos e até uma borrifada de desodorante para quem estiver precisando. A alimentação infelizmente segue o estilo de festival – ou seja, preços altos – mas busca compensar apresentando uma variedade significativa no cardápio.

O maior desafio do público acaba sendo escolher quais bandas serão assistidas nos horários coincidentes. Aqueles que chegaram cedo, por exemplo, já tiveram que que decidir entre o clima descontraído da banda goiana Brvnks e os paraenses roqueiros cheios de guitarras pesadas e inusitadas reflexões sociais da Molho Negro. 

Logo chegou a vez de uma das maiores bandas do cenário brasileiro de rock independente. Autoramas está no vigésimo primeiro ano de carreira e se apresentou pela primeira vez no Lolla com um show divertido e descontraído, com clima de “entre amigos”. Detentores de uma visibilidade internacional, seguem para (mais uma) turnê na Europa logo após o festival.

Apresentação da banda Scalene. Foto: Lucas Tavares / Zimel

Dividindo horários, a banda Scalene, que se tornou bastante popular especialmente após a edição 2015 do programa de TV “Superstar”, conduzia o Palco Budweiser enquanto o Palco Adidas era virado de cabeça pra baixo pelos gringos da Fever 333. Se da primeira vez, no ano de 2015, Scalene era relativamente desconhecida, dessa vez a banda brasileira se apresentou para um público bem maior e que se empolgava especialmente durante as canções que levavam mais críticas políticas e sociais. Ao mesmo tempo, a primeira atração internacional da edição,  trio norte-americano Fever 333 fez uma apresentação energética e acrobática. Misturando rap com hip hop, a banda fez questão de mostrar não apenas sua boa qualidade técnica e músicas que pegam, como a capacidade do baterista de dar um mortal pra trás do alto de uma caixa de som. Quando cheguei ao show, o guitarrista estava em cima da torre de câmeras de transmissão. Minutos depois, próximo ao fim do show, quando o vocalista já encontrava-se apenas de cueca, o guitarrista surgiu tocando em cima da estrutura do palco. Não satisfeito, arremessou a guitarra lá do alto. Se não atingiu ninguém com o instrumento, certamente impactou a todos.

Indígenas durante a apresentação da banda Portugal The Man. Foto: Lucas Tavares / Zimel

O show da banda Portugal the Man iniciou-se de uma maneira emocionante. Um dos integrantes tomou o microfone e explicou que a banda vem do Alasca, EUA, onde tinham muito contato com os povos nativos americanos. Inspirados pela banda brasileira Sepultura e seu ativismo pela causa indígena, convidaram membros de uma tribo brasileira para falar ao microfone sobre os problemas que as populações nativas enfrentam no dia a dia. Eles apresentaram uma canção tradicional e logo fizeram um discurso poderoso em prol da demarcação de terras indígenas e pelo fim do genocídio dos povos originários. Depois desse impacto, a banda começou sua apresentação. Com muito bom humor, a banda mostrava mensagens divertidas no telão em português, como “Apenas certificando que vocês estão assistindo a banda certa” e “Não se preocupe, vamos tocar ‘aquela’ música já já” (no caso o hit “Feel it, Still”, que foi a mais celebrada), mas também mensagens sociais, como “Se você é contra casamento gay, case com um hétero” e “Nós não herdamos a Terra de nossos antecessores, nós a pegamos emprestado de nossas crianças”. Não apenas colocaram todo mundo para dançar, como o fizeram de maneira cheia de ativismo e engajamento – mostrando que é, sim, possível.

O australiano e ex-Wolverine Troye Sivan encerrou ontem sua primeira turnê pela América do Sul. Troye e sua banda comandavam o público mas também estavam muito encantados com a plateia brasileira. O vocalista várias vezes comentou sobre a energia dos fãs na América do Sul, que não encontra em lugar nenhum do planeta. Toda vez que gritavam em português, ele procurava saber o que significava – só para depois ficar corado ao descobrir, por exemplo, a tradução do clássico “lindo, tesão, bonito e gostosão”. Entre canções emocionantes e dançantes, Troye se emocionou com as bandeiras de arco-íris na plateia fez discursos sobre amor e aceitação que comoveram a galera, que também pulou e se divertiu bastante com seus maiores hits.

The 1975 no Lollapalooza Brasil. Foto: Lucas Tavares / Zimel

A banda inglesa The 1975 fez uma apresentação mais voltada para o álbum “A Brief Inquiry into Online Relationships”. Teatral, o vocalista Matt Healy brincava com o público e com as câmeras de transmissão, dramatizando as canções e às vezes imitando um robô. O tema do show fez críticas a questões da pós-modernidade, com o telão em forma de smartphone.

A good vibes de Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown fez um dos shows mais engajados da noite com a última apresentação da tão esperada turnê dos Tribalistas. Mesmo com alguns problemas no som, o encanto foi geral e não houve quem não saísse cantarolando o “uuu” de “Já sei namorar”. Entre canções do primeiro e segundo disco, alem de canções de seus trabalho solo, o publico fez coro do início ao fim, finalizando o projeto com chave de ouro.

Provavelmente o destaque da noite foi o show de Sam Smith. O cantor já havia se apresentado no Brasil uma vez, mas retornou muito mais à vontade e descontraído. Com uma quantidade maior de canções de sucesso, o coro da multidão não se resumiu apenas à clássica “Stay With Me”, mas também esteve presente por exemplo em “Too Good at Goodbyes”, de seu mais recente disco, entre outras sofrências. Porém não tratou-se apenas de sofrência, e o público saiu do chão para dançar em “Omen” e “No Promises”. O destaque, acima de tudo, estava nos vocais acertadíssimos do intérprete.

Foals. Foto: Lucas Tavares

Também apresentaram-se Foals e St Vincent. Fechando a noite, Macklemore apresentou-se no palco Adidas, apresentando seu rap com letras de consciência social para um público mais adolescente, enquanto os britânicos do Arctic Monkeys levavam um mar de gente ao seu Tranquility Base Hotel e Casino. Os destaques da apresentação infelizmente estavam longe de serem as canções novas; era notável a empolgação do público frente aos clássicos mais acelerados, como “I bet you look good on the dancefloor” e mesmo os singles do trabalho anterior AM: “R U Mine” e “Snap Out of it”. De modo geral, a apresentação agitou a massa e eletrizou o público do Autódromo, fechando em alta energia a primeira noite do festival.