Na minha experiência pessoal, Cage The Elephant é uma daquelas bandas que ocupam aquele tênue limiar entre o amor e o ódio. Com músicas cativantes e timbres fortes, o grupo (quarteto, quinteto, mais uma banda do Dave Grohl, etc) traz um som extremamente expressivo, impactante, emocionante. O tipo de trabalho que você ouve em um repeat inconsequente, como quem não quer virar o disco – ou procurar outra coisa pra ouvir no Spotify.

Presentes no Lollapalooza Brasil desde sua primeira edição  e completando três participações nos seis anos de festival, a banda é considerada por muitos como um filhote caçula de bandas como Nirvana e Pixies (com direito a lead-singer de vestido e tudo mais). Com quatro álbuns na bagagem e um trabalho cada vez mais maduro, é difícil imaginar que ainda havia algo a mostrar para o público tupiniquim – ou não?

O que se viu na tarde desse sábado não foi exatamente surpreendente, uma vez que não havia como negar a expectativa por mais uma apresentação retumbante de Matt Shultz e sua trupe. Ainda assim, para todo fã de música, é sempre chocante estar ao meio de uma plateia que acompanha o vocalista ao longo de cada frase, palavra e verso, criando um eco sonoro em meio ao gigantesco anfiteatro natural proporcionado pelo Autódromo. Sem dúvida com uma das maiores concentrações de público da noite, talvez perdendo apenas para The XX e Metallica (incontestável), o Cage The Elephant parece sempre fazer o exato oposto do que preza o seu nome: liberar uma manada de apaixonados por suas músicas, um mar de gente que respira, grita, pula e se diverte em uníssono. Um amor recíproco e claramente perceptível no brilho dos olhos de cada integrante do grupo durante toda a tarde.

Começando por Cry Baby Cry e In One Ear, o grupo percorreu uma maratona em alta velocidade por seus maiores sucessos, como Come a Little Closer, Ain’t No Rest For The Wicked e Cigarette Daydreams. Se engana, no entanto, quem acha que o objetivo era chegar ao fim mais rápido: o que Matt, seus companheiros e o público queriam eram aproveitar mais uma oportunidade de viver cada segundo ao máximo e se desvanecer em êxtase, alegria e muita energia na companhia uns dos outros. Chegava ao ponto, inclusive, de não se distinguir banda e público em meio a todas as incursões de seus integrantes à grade.

Se o Cage The Elephant recebe tantos críticas positivas, mesmo com insistentes comentários de que se apoiam demais em suas referências musicais (que vão de Nirvana a The Who e Weezer, passando pela estética de Iggy Pop e Mick Jagger), é porque são sim capazes de beber em suas respectivas fontes e produzir um som próprio, com características fortes e grande personalidade.

Não são a salvação do Rock, mas certamente estão fazendo a sua parte.

Setlist:

1. Cry Baby
2. In One Ear
3. Spiderhead
4. Too Late to Say Goodbye
5. Cold Cold Cold
6. Trouble
7. Ain’t No Rest for the Wicked
8. Mess Around
9. Punchin’ Bag
10. Telescope
11. It’s Just Forever
12. Come a Little Closer
13. Cigarette Daydreams
14. Shake Me Down
15. Teeth