O primeiro dia de Lollapalooza já acabou, mas o sucesso da noite continua no coração de todos. Com poucas novidades de estrutura e muitas novidades no Line-Up, esses são os principais destaques do sábado:

Acesso

As pulseiras, utilizadas como ingresso e como forma de pagamento durante o festival, foram um grande avanço. No entanto, observamos dezenas de pessoas muita confusas em relação a locais de retirada da pulseira e dos portões de acesso. Uma vez que você precisava da pulseira para ultrapassar diversas barreiras, houveram pessoas tendo que dar várias voltas pela área externa do Autódromo em busca de informações – que dificilmente chegaram. Pelo menos, uma vez chegando nas roletas, o acesso estava razoavelmente tranquilo. Vimos poucas filas, pelo menos no início do dia.

Estrutura

O parque, uma das mais importantes atrações do festival em todas as suas edições internacionais, este ano virou plano de fundo. E isso é literalmente: situado no topo de uma colina em frente ao palco Ônix, o mais distante de todos, acabou por se tornar uma última opção em qualquer hipótese. Nem mesmo os gritos ocasionais do público nos brinquedos incentivava a aproximação.

Em contrapartida, enormes estruturas foram disponibilizadas em locais de fácil acesso para as Lollastores e o Lolla Market, que contou com a simpática presença de marcas apoiadoras do festival, como Puma e a carioquíssima Farm. Tudo disponibilizado em lugares de passagem obrigatória, exatamente entre os palcos Onix e Skol.

Um observação é para as áreas de descanso, também localizadas entre os palcos Onix e Skol porém muito distantes das principais passagens, com exceção de um ou dois aglomerados de bancos e redes que ajudavam a compor a paisagem no trajeto.

Comida e Bebida

Os destaques desse ano ficaram a cargo da pulseira NFC, que exigia carregamento prévio, e do Chefs Stage, com grandes nomes da gastronomia nacional.

Fora os problemas que o público teve para retirada da pulseira no dia do evento, vale dizer que foi uma excelente ideia. O sistema permite que o público ande com menos dinheiro, reduzindo o risco de furtos (que a gente sabe que acontecem e não tem muito o que fazer) e acima de tudo agilizando os atendimentos nos diversos pontos de venda espalhados pelo festival. Os pontos de recarga estavam sempre vazios, ao contrário dos pontos de venda que estavam sempre abarrotados de gente. O tempo médio, registrado pela equipe, variou de 10 a 30 minutos aguardando por atendimento.

O tempo de espera foi uma questão também em outros locais: o Chefs Stage estava, durante todo o dia, com lotação total. Poucos estandes estavam vazios, talvez porque paella não seja um prato tão democrático assim. Durante a noite, já com o público total do dia no local, o Chefs Stage chegou a ter seu acesso interrompido: não havia mais espaço para circulação. Essa interrupção foi um reflexo do que se viu em outros locais do festival: Food Trucks e lanchonetes com filas imensas, muitas das quais chegavam a bloquear por completo o trânsito em diversos pontos, claramente sem capacidade de dar vazão ao atendimento de tantas pessoas.

Ah, e uma observação: $6 em um copo de água é um valor muito complicado para ser executado em um evento tão grande, especialmente em um local de clima tão seco quanto São Paulo.

Segurança

Todo o trajeto, mesmo fora do Autódromo, possuía um grande número de seguranças e equipes designadas para fornecer informações. Dentro do festival, muitos profissionais (uniformizados e à paisana) circulavam e buscavam ativamente solucionar problemas e atender ao público.

Um dos momentos mais complicados da noite, que ainda assim foi gerenciado sem maiores problemas, foi o bloqueio do acesso ao palco Perry, no acesso próximo à praça de alimentação. Não obtivemos confirmação dos motivos do bloqueio, mas apesar de gerar um grande desconforto no público, não resultou em maiores problemas.

Apresentações

BAIANASYSTEM

© Lucas Tavares

Quem escuta o som do Baianasystem não consegue deixar de lembrar do manguebeat de Chico Science, da Nação Zumbi e do Mundo Livre S/A. A autofagia cultural em busca de novos sons e novas ideias, assim como em Recife, foi o que fez surgir em Salvador um projeto musical capaz de misturar a guitarra baiana (instrumento criado nos anos 1940 e que deu origem ao trio elétrico) com os Sound Systems jamaicanos, uma onipresente estrutura musical do nordeste brasileiro.

Os dois discos e um EP do Baianasystem enganam quem encara o grupo como uma expressão menor. Na verdade, os soteropolitanos contam com uma sólida carreira internacional, levando mais uma fortaleza da cultura brasileira para os ouvidos de pessoas do mundo inteiro.

Com um show curto, porém marcado por sucessos como “Lucro”, a banda (em companhia de Bnegão) registrou o segundo ponto alto do dia, logo após a apresentação do The Outs feat. Cachorro Grande. Com uma energia que ultrapassa qualquer escala, levaram e trouxeram o público do Palco Axe do Carnaval de Salvador. Esse não é um feito muito fácil, especialmente em meio a um evento com espaço reduzido para trabalhos com características tão definitivamente brasileiras.

Se você não conhece ou nunca ouviu, fica a dica.

Glass Animals

© Lucas Tavares

Os oxfordianos da Glass Animals trouxeram seu pop psicodélico para o Palco Onix, o segundo principal palco do festival desse ano. Com dois discos e cinco anos de estrada, os ingleses subiram ao palco brasileiro com toda a dimensionalidade de um eletrônico tranquilo, uma mistura de sintetizadores com vocais suaves e cortes secos que mantém o público em um movimento contínuo de semi-êxtase.

A qualidade do trabalho da banda justifica, sem dúvida, o tamanho do público presente. Mesmo localizado no palco mais distante e em um dos primeiros horários, o Glass Animals foi capaz de arrematar um bom número de ouvintes, muitos deles fãs declarados. Uma característica da apresentação deste sábado foi a estabilidade: após um bom início com Premade Sandwiches, o setlist manteve o público animado porém sem grandes momentos de empolgação.

Rancid

© Lucas Tavares

Com mais de 26 anos de estrada, essa é a primeira vez que o Rancid vem ao Brasil. Depois de tocarem também pela primeira vez na Cidade do México, Tim Armstrong (vocal, guitarra), Matt Freeman (baixo, vocal), Lars Frederiksen (vocal, guitarra) e Branden Steineckert (bateria) chegam ao Lollapalooza Brasil nesse sábado para compor o Line Up do festival para uma única apresentação.

Uma consideração importante é que em uma programação que oscila entre o indie mainstream e um intenso flerte com a música eletrônica, a presença de uma das maiores bandas punks do mundo, nascida em uma efervescente Califórnia dos anos 1991, é sem dúvida um agrado ao público afeito a acordes mais pesados. Esse é um importante movimento de valorização de um ícone do rock mundial, que infelizmente não recebeu tanta atenção do público presente. Em comparação com Cage the Elephant e Metallica, os quais sucedeu e precedeu no principal palco do Lolla, o Rancid foi incapaz de arrematar público ou mesmo empolgar, resultando em um gramado vazio e esparsamente preenchido com muitas poucas pessoas realmente assistindo ao show.

Há sempre a hipótese de que “o rock morreu”. Ou o punk morreu. Ou essa juventude não tem mais jeito. Rancid é um ícone que merece respeito e que produz um punk de qualidade, mas o punk é representante de uma geração muito específica. Talvez os problemas dos jovens de hoje sejam outros, talvez o conflito e a ruptura pela qual precisam passar seja outra e talvez por isso o punk já não possua tanta penetração. Criada a base de outras influências musicais e com uma mentalidade global, há de se levantar a questão de qual é a nova música que representa um movimento contra o sistema, de quem é o novo punk. Porque o Rancid, com certeza não é.

The Chainsmokers

© Lucas Tavares

O duo novaiorquino de DJs foi um dos principais headliners deste primeiro dia de festival, encerrando o sábado fazendo contraponto ao Metallica. Com influências do Indie, do Progressivo e da Música Pop, vem garantindo presença nos primeiros lugares da Billboard e nos principais festivais de todo o mundo.

Particularmente, pode ser considerado um dos maiores pontos altos da noite. Foi sua primeira apresentação no Brasil após uma explosão de sucesso no cenário internacional e é fácil entender o motivo. Para os apaixonados por música eletrônica, todos os principais elementos estão ali: dos drops secos, os clímaxes sequenciais, a voracidade e velocidade com que as caixas de som explodem com os movimentos das pickups e a presença de bons mestres de cerimônia, na pele de Andrew Taggart e Alex Pall. Ao mesmo tempo, a apresentação é impecável no que se refere à produção cenográfica, com luz, fumaça e até mesmo fogo e confetes surgindo alternadamente para delírio do público.

Uma excelente escolha para fechar a noite ao som de um eletrônico competente.