Quente e frio. A abertura do tradicional festival NOS Alive, que reuniu mais de 55 mil pessoas esta quinta-feira (12) em Lisboa, teve sensações misturadas. Quente: os shows de Nine Inch Nails, Bryan Ferry, Khalid e Friendly Fires; o astro António Zambujo recebendo convidados no palco dedicado ao fado contemporâneo, as bandas locais D’Alva e Orelha Negra incendiando o experimental palco Clubbing, um dos seis espaços musicais a ocupar a imensa área de mais de cem mil metros quadrados no Passeio Marítimo de Algés.

Frio: o vento que derrubou a sensação térmica para menos de 15 graus durante grande parte da primeira noite do festival de verão; o concerto do Snow Patrol, contrastando com a alta voltagem do Nine Inch Nails, antecessores imediatos no cenário principal; o conjunto de heterodoxas atrações lúdicas que nada têm a ver com música e roubam a atenção do público — como em qualquer grande evento similar contemporâneo —; e, surpreendentemente, o show da atração principal, Arctic Monkeys.

Não que a banda liderada por Alex Turner não tenha agradado. Ao contrário, a devoção dos fãs — e não só dos mais jovens — resiste, inquebrantável. Mas a fórmula escolhida pelos ingleses para mostrar seus temas, intercalando canções carentes de potência do novo álbum, “Tranquility Base Hotel & Casino”, com hits de guitarras rascantes e baterias tribais dos grandes momentos do passado, não contribuiu para criar uma sensação de coesão, jogando a apresentação em energias diametralmente opostas entre uma música e outra. Frio e quente.

Alex Turner do Arctic Monkeys © Arlindo Camacho

Depois do começo morno com a recém-lançada “Four out of five”, Turner e sua trupe deram início a uma pequena sequência de choques térmicos: “Brianstorm” (2007), “Don’t sit down ‘cause I’ve moved your chair”, única representante do quarto álbum, “Suck it and see”, de 2011; “Crying lightning” (2009) e um longo momento com o líder ao piano tocando semibaladas como a nova “One point perspective”.

É verdade que a noite atingiu quase ponto de fervura com “I bet you look good on the dancefloor”, da primeiríssima fase (2004), “505” (2007), “Do I wanna know?” e (a derradeira) “R u mine?”, ambas do excelente disco “AM”, de 2013. Mas a parte “arctic” do nome da banda — curiosamente ausente do background luminoso que estampou o palco apenas com a palavra Monkeys — se esparramou mesmo pela apresentação.

Bryan Ferry no NOS Alive, em Lisboa © Arlindo Camacho

O que não se pode dizer de Bryan Ferry, primeira atração internacional de peso da jornada, pontual ao subir ao palco às 19h15. Desfiando seus muitos hits solo ou dos tempos de Roxy Music, banda que dividiu brevemente com o mítico compositor e produtor Brian Eno, o performer de 72 anos emocionou. Tocou coisas como “Don’t stop the dance”, “Slave to love”, “Let’s stick together” e “Love is the drug” e foi um ponto de união intergeracional antes de os mais jovens invadirem o palco Clubbing para ouvir a electrobatucada do D’Alva.

O duo lisboeta, acompanhado de uma firme base percussiva, trouxe uma alegre mistura de sons portugueses e africanos, com direito a citações até à guitarra baiana, rediviva na incansável pesquisa musical de bandas brasileiras como o BaianaSystem.

Ninguém ficou indiferente, ou quase. Enquanto o vocalista urrava o refrão picante da explicitíssima “I want to fuck you like an animal”, dezenas de pessoas esperavam sua vez de brincar com inocente jogo virtual sobre uma cama voadora, num estande de camisinha. Como dito, quente e frio.

SHOWS DE SEXTA E SÁBADO

Nesta sexta (13), Queens of The Stone Age, The National, Two Door Cinema Club e Chvrches são as atrações principais do festival. O The Kooks, que iria participar, cancelou sua apresentação um dia antes devido a uma bronquite que teria acometido seu vocalista, Luke Prichard.

No sábado, encerrando a edição deste ano do NOS Alive, MGMT, Pearl Jam, Jack White, Franz Ferdinand, Alice in Chains, Clap Your Hands Say Yeah e Mallu Magalhães.