Há 34 anos, perdemos um dos grandes artistas do Brasil: Agenor de Miranda Araújo Neto, o nosso Cazuza. Dono de personalidade enérgica e com muita sagacidade e sentimento em suas músicas, o músico marcou uma geração de jovens e, apesar de tanto tempo passado desde o seu falecimento, sua memória e impacto ainda permanecem na história brasileira.

Sua experiência no mundo da música começou desde muito cedo, por influência de seus pais: o produtor João Araújo, responsável por fundar a prestigiada gravadora Som Livre em março de 1969, e Lucinha Araújo, que fez uma breve passagem no universo da música, com os álbuns “Do Mesmo Verão” (1980) e “Tal Qual Eu Sou” (1982). Assim, entrelinhas, Cazuza foi encontrando suas maiores vocações: o canto e, claro, a poesia.

A revelação do artista ocorreu por meio do grupo teatral cômico “Asdrúbal Trouxe o Trombone”, no qual fez a sua primeira apresentação em público. Logo mais, inaugurou sua posição de vocalista ao entrar na famosa banda de rock “Barão Vermelho”, vencedora por dois anos consecutivos da categoria melhor banda de rock pelo Prêmio Sharp (atual Prêmio da Música Brasileira). Sua passagem no grupo foi marcada por algumas polêmicas, principalmente em decorrência da sua saída no ano de 1985, quando a banda estava no meio da produção de seu quarto álbum, o “Declare Guerra” (1986). Apesar de momentos de tensão, é inegável que o grupo contribuiu para projetar seu sucesso e talento frente aos holofotes brasileiros e internacionais.

Após sua participação no Barão, Cazuza desenvolveu uma carreira solo, que teve como álbum de lançamento “Exagerado” (1985). Este contou com grandes composições, como “Codinome Beija-Flor”, com letra conjunta de Ezequiel Neves e Reinaldo Arias, “Boa Vida” e “Só as mães são felizes”, sendo as duas últimas compostas pelo artista junto ao amigo Roberto Frejat. Além disso, é claro que não poderíamos deixar de abordar a música de nome homônimo ao álbum, com letra produzida em parceria com Ezequiel Neves e Leoni, a qual se tornou um hino dos apaixonados em busca de um amor com sentimentos hiperbólicos e intensos, tal como era o artista.

O músico cresceu na elite do Rio de Janeiro e, apesar de seus privilégios, conseguiu trazer em muitas de suas composições algumas críticas políticas e sociais, como “Brasil” (1988) e “O Tempo não para” (1988). Tais músicas, que contém trechos como “Nas noites de frio é melhor nem nascer/Nas de calor, se escolhe: é matar ou morrer/E assim nos tornamos brasileiros”, tornaram-se símbolos de resistência e luta para a população no período de transição da ditadura militar para o regime democrático. Além disso, a produção “Ideologia”, de composição de Cazuza e Frejat e com versos críticos como “Meus heróis/Morreram de overdose, é/Meus inimigos/Estão no poder”, foi rankeada na 83ª posição das “100 Melhores Músicas Brasileiras”, de acordo com a Revista Rolling Stone Brasil no ano de 2009.

É importante destacar também a representatividade de Cazuza para a população LGBTQIAPN+ e para o combate a AIDS, cercada de muitos estigmas vinculados erroneamente a essa parcela da sociedade. O artista foi a primeira celebridade brasileira a anunciar publicamente que era soropositivo, no ano de 1987, sendo um exemplo de coragem e luta contra a doença. Seu falecimento, no dia 07 de julho de 1990, fez com que seus pais fundassem a Sociedade Viva Cazuza, que durante 30 anos atendeu mais de 300 crianças com HIV, o Vírus da Imunodeficiência Humana, causador da doença mencionada.

Por fim, o nosso artista teve grande reconhecimento por parte de outras estrelas da música brasileira: além das parcerias em obras, foram diversas regravações que se tornaram sucessos: Caetano Veloso interpretou “Todo Amor Que Houver Nesta Vida”; Edson Cordeiro em “Down em Mim”; Lulu Santos com “Beth Balanço”; Cássia Eller e Arnaldo Antunes em “Mal Nenhum”; Adriana Calcanhotto em “Mulher Sem Razão”; Ney Matogrosso, Elza Soares e Simone em “O Tempo Não Para” e assim por diante…

Há 34 anos, o Brasil ganhou uma estrela no céu, estrela essa que mesmo longe continua a brilhar com sua alegria, intensidade e talento. Como já cantava Cazuza, “Todo dia é dia e tudo em nome do amor” (Pro Dia Nascer Feliz, 1983).