A personagem será vivida por Aline Carrocino, também produtora da montagem, que foi idealizada pelo jornalista Christovam de Chevalier. Aline divide a cena com França, que personifica os papéis masculinos, e mais cinco músicos. A montagem tem  direção artística de Priscila Vidca e musical, de Guilherme Borges.

O texto aborda momentos marcantes da vida da artista entremeando-os com mais de 15 canções, todas significativas do seu repertório. O ponto de partida é um show de Carlos Lyra , nos idos dos anos 80, quando o cantor é surpreendido pela presença de Nara na platéia. Ela sobe ao palco e, na hora de cantar, tem um dos seus lapsos de memória, cada vez mais e mais comuns. Essa característica é o artifício para a primeira das muitas mudanças de tempo na trama. E a vida da cantora começa a ser esmiuçada, sem, contudo, seguir uma ordem cronológica. Entre as passagens, sua emancipação aos 16 anos (seu pai defendeu a independência feminina) e seu encontro com Ronaldo Bôscoli, com quem romperia relações em seguida (e consequentemente com a bossa nova), a descoberta do aneurisma, sua aproximação do samba de morro, das canções de protesto, da Tropicália e o exílio na França, de onde volta apaziguada com a bossa nova e com outros clássicos do cancioneiro brasileiro, os quais visitaria já consagrada. 

Título é tirado de poema de Drummond escrito para ela

Nara tinha o hábito de anotar alguns de seus sonhos num caderno. E parte desses registros também foi usada pelos autores, que os costuram a declarações da artista, muitas delas dadas à grande imprensa, além de fontes outras como o poema escrito por Carlos Drummond de Andrade para a cantora – e do qual os autores tiraram  o título para o musical. Drummond é, aliás, um dos muitos personagens interpretados por Marcos França, que dá voz também ao pai de Nara e a nomes como Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli, entre outros tantos. 

E as dualidades enfrentadas por Nara estão todas ali. Talvez a principal delas seja entre a figura humana e a persona artística. “Não sou musa de nada!”, declara num dado momento. E em se tratando de um musical, as canções são peças-chaves. O roteiro inclui temas como “Primavera” (Lyra e Vinicius), “Carcará” (João do Vale, do emblemático show “Opinião”), “Se é tarde me perdoa” (Lyra e Bôscoli) e canções daquele que foi o compositor mais presente no repertório da intérprete: Chico Buarque. São músicas como “João e Maria”, “Soneto”, “História de uma gata” (do musical “Os saltimbancos”, apresentado no hoje extinto Canecão) e, claro, “A banda”, a primeira das muitas canções que gravaria do autor. O compacto com essa música, vale dizer, vendeu 50 mil cópias – feito que desbancou Frank Sinatra na época.

Desbancar o cantor favorito de Bôscoli foi apenas um dos muitos feitos de Nara Leão. Uma cantora que abriu portas para suas colegas de geração e às vindouras. Uma mulher que não se deixou calar ou abater – nem nos seus momentos finais. Se alguém perguntar por ela, é só dizer que está logo ali, no Teatro da UFF.

O Brasil conheceu uma cantora que foi popular, contundente e influente. Além de plural, como outras só seriam nos anos 1990, mas sobretudo corajosa, tanto por dar voz a canções que criticavam o governo, quanto por suas declarações, muitas delas contra o governo militar de então. Essa cantora, única por ser tão multifacetada, era Nara Leão, que saiu de cena em 1989, prematuramente.

Aline Carrocino é atriz, cantora, bailarina e produtora, tendo atuado em importantes musicais, tanto para o público adulto quanto para o infantil. Dentre as produções em que atuou estão “Noel, feitiço da Vila”, “Muita mulher para pouco musical”, “Novelas, o musical”, “Todo vagabundo tem seu dia de glória”, “Luiz e Nazinha” e “Bituca para crianças”, que apresenta aos pequenos as obras de Luiz Gonzaga e Milton Nascimento, respectivamente. Pelo primeiro ganhou o prêmio de Melhor Atriz do Centro Brasileiro de Teatro para a Infância e Juventude.

Marcos França é ator, diretor e dramaturgo. É um dos criadores do Núcleo Informal de Teatro, dedicado à pesquisa de nomes da música brasileira, com o qual, desenvolveu os musicais “Antonio Maria –  Noite é uma criança” (2004), “Ai, que saudades do Lago” (2006) e “Aquarela do Ary” (2007/2008). Criou e atuou nos projetos “Na rotina dos bares” (2012), com direção de Ana Paula Abreu, e “Chabadabada” (2015), com texto de Xico Sá, músicas de Wando e direção de Thelmo Fernandes. 

 

NARA – A menina disse coisas
Quando? 20, 21 e 22 de julho. Sexta a domingo, 20h. Onde? Teatro da UFF (Rua Miguel de Frias, 09 – Icaraí). Contatos: (21) 3674-7511 e (21) 3674-7512. Ingressos: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia). Capacidade: 344 pessoas. Duração: 80 minutos. Indicação: Livre