Em sua primeira passagem pelo Brasil em quase vinte e cinco anos de banda, os texanos do At the Drive-In desembarcam cercados de ansiedade. Também pudera, os americanos são um dos grandes expoentes do post-hardcore e uma das bandas alternativas mais influentes dos anos 2000. Sem bandas de abertura e apenas com algumas mensagens do Queremos! (que organizava o show), o palco era todo da banda principal. Um pequeno atraso fez com que a expectativa da banda subir ao palco só aumentasse.

Eis que pouco depois das 22h30, o At the Drive-In surge no palco com uma intro devastadora e colocando fogo nos presentes com a trinca “Arcarsenal”, “Governed by Contagions” e “Lopsided”. A apresentação da banda é enérgica e calorosa, sem deixar de ser eficiente. Cedric Bixler-Zavala mostra toda a sua afinidade com o palco entregando uma apresentação carregada e violenta em um sentido positivo. Entre as poucas falas do vocal, uma delas foi sobre resistência em tempos políticos difíceis e sobre “presidentes idiotas”, seja aqui no Brasil ou na terra natal da banda, os EUA.

Omar Rodriguéz-Lopéz e Jim Ward mostram uma ótima química nas guitarras. Entre backing vocals pontuais, a sintonia e a presença deles é de brilho em músicas como “No Wolf Like the Present”, a introvertida, mas também explosiva “Invalid Litter Dept.” e a incrível “Pattern Against User”, que encerra o pequeno, mas bombástico setlist.

É antes da última música, porém, que Cedric Bixler-Zavala faz um discurso emocionado, beirando ao choro, no qual apresenta o line-up original da banda e fala sobre perdas pessoais, vida em família e dificuldade de se estar em turnê com todos os percalços de uma vida paralela e com a realidade batendo na porta e entrando em casa sem ser convidada. Dito tudo isto, o vocal anuncia, entre lágrimas, que o show do Rio de Janeiro é um dos últimos que a banda fará por algum tempo, agradecendo e mostrando sua devoção aos seus companheiros de banda e ao público em geral. Catarse alimentada, é hora de “One Armed Scissor” externar todos os sentimentos guardados por quem estava em cima do palco e por quem estava embaixo também, gerando um turbilhão de emoções que, se as palavras não conseguem exprimir, felizmente a música consegue.

Show encerrado e a perplexidade do que havia ocorrido é perceptível nos olhos de muitos. Um grande e esperado show se encerra com um apagar de luzes que ninguém presente esperava, mas que elevou a importância do ato e fez da apresentação um lugar único. O At the Drive-in expurga seus demônios ao vivo e mostra o por que é uma das bandas modernas mais relevantes para o cenário alternativo atual. Um show intenso para se guardar na cabeceira da memória.

Veja aqui o trecho que Cedric anuncia o hiato da banda.

AT THE DRIVE-IN no Circo Voador
Rio de Janeiro, 17 de novembro de 2018

1- Arcarsenal
2- Governed By Contagions
3- Lopsided
4- No Wolf Like the Present
5- Cosmonaut
6- Invalid Litter Dept.
7- Enfilade
8- Metronome Arthritis
9- Catacombs
10- Napoleon Solo
11- Pattern Against User
Bis
12- One Armed Scissor