Esta sexta-feira, no Dia Mundial da África, o festival Back2Black apresenta a primeira etapa de sua edição 2018, que segue em novembro: um grande concerto no Teatro Municipal, conduzido pelo cantor, compositor, escritor e ex-ministro da Cultura caboverdiano Mário Lúcio junto com o maestro, compositor e instrumentista baiano Letieres Leite, líder da Orkestra Rumpilezz (que participa da noite, junto com o Ensemble de Cordas da Orquestra Maré do Amanhã).
Gilberto Gil, Mariene de Castro e Mart’nália são convidados especiais do espetáculo que traz também uma atração inédita em palcos cariocas: a inglesa Sona Jobarteh, primeira mulher a tocar profissionalmente a kora, instrumento de 21 cordas, típico da África Ocidental.
Logo após seus primeiros ensaios com Mário Lúcio e os brasileiros, Sona comentou:
— Foi muito interessante ver como a música do Brasil e a da Gâmbia têm semelhanças, em especial na percussão. Mas, ao mesmo tempo, elas são tão diferentes… Considerando que a tradição que chegou ao Brasil é basicamente a da África Ocidental, parece que eu estou ouvindo uma reinterpretação da música da Gâmbia (país de onde vem a sua família).
Sona veio pela primeira vez ao Brasil no ano passado, para participar do festival de percussão PercPan, em Salvador.
— Geralmente quando se viaja não se tem tempo de conhecer nada, mas em Salvador eu pude ter um gostinho da cultura brasileira, e conversar com músicos locais. Voltei agora com um pouco mais de conhecimento — diz ela, que não descarta colaborações futuras com brasileiros. — Temos muita experiência compartilhada.
Pouco conhecida no Brasil (embora o cantor Arnaldo Antunes tenha gravado um disco inteiro com um dos mestres do instrumento, Toumani Diabaté, primo de Sona), a kora despertou curiosidade com Sona.
— Os músicos daqui sempre se mostram muito interessados, me fazem perguntas. Para eles, é um instrumento surpreendente, que traz algo de novo mas também algo de muito familiar.
Para a instrumentista, a kora oferece desafios “menos pelo lado técnico, e mais pelo da musicalidade”.
— O primeiro desafio é que esse é um instrumento cuja prática é dominada pelas famílias e passada pelas gerações, de pai para filho. É uma responsabilidade que você assume ao tocá-lo — conta. — E o meu desafio pessoal veio pelo fato de que sou mulher. Meu irmão começou a me ensinar a tocar kora quando eu era bem pequena, sem que o resto da família soubesse. Quando se deram conta, eu já dominava o instrumento.
A questão da tradição é central para quem toca kora.
— Se você se distancia muito dela, fica difícil de conseguir apoio. A música é parte da identidade cultural da Gâmbia. Mas, se você consegue ser criativo dentro da tradição, você é muito bem vindo, a arte é uma forma de manter vivos os nossos valores — diz Sona, para quem ainda se terá que esperar um bocado para ver mais mulheres tocando kora. — Temos uma escola na Gâmbia e as meninas ainda estão escolhendo seus instrumentos. Vamos ver daqui há uns cinco anos.
Back2Black in Concert
Onde: Teatro Municipal — Praça Floriano, s/n, Centro (2332-9191).
Quando: Sexta-feira, às 21h.
Quanto: De R$ 15 a R$ 120.
Classificação: Livre.
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