Beto Guedes se apresentou na última sexta-feira, 11 de outubro, no Circo Voador, em um show comemorativo de 50 anos de carreira, legitimado por um legado musical prestigiado e atemporal.
Com a casa cheia, Beto subiu ao palco ao lado de seu filho, Ian Guedes, e os músicos Adriano Campagnani (baixo), Arthur Resende (bateria) e Will Motta (teclados). Começaram o show com a música “Balada dos 400 Golpes”, uma escolha significativa para celebrar meio século de trajetória. A expressão “400 golpes” remete ao título de um filme clássico francês, “Les Quatre Cents Coups” (Os 400 Golpes), que trata da vida de um jovem em busca de identidade. E Beto Guedes desempenha um papel fundamental na construção da identidade da música brasileira, tanto por fazer parte do movimento musical Clube da Esquina, ao lado de outros expoentes como Milton Nascimento e Lô Borges, quanto por experimentar a fusão de diversos estilos musicais, como rock, bossa nova e a música folclórica mineira, refletindo a diversidade cultural do país.
Antes mesmo da segunda música, Beto Guedes foi ovacionado e recebeu o carinho dos fãs; o cantor retribuiu com um sorriso que refletia a alegria daquele momento. O show continuou com “Canção do Novo Mundo”, uma homenagem a John Lennon, e “Espelhos D’água”, que também foi eternizada na voz da cantora Patrícia Marx. Beto Guedes conduziu a noite com leveza e descontração, entregando um show intimista, como se estivesse tocando em uma roda de amigos. De certa forma, estava mesmo. Uma atmosfera perfeita para a execução dos hinos “Lumiar”, “Sol de Primavera” e “Feira moderna”.
O cantor mostrou-se visivelmente emocionado, não apenas com o coro uníssono que o acompanhava em todas as músicas, mas também com a consciência de estar cercado por um público multigeracional; um público que testemunha um artista que fez história e que continua a escrevê-la com o brilho e a poesia que o levaram ao topo – como o próprio filho, Ian Guedes, sugeriu em seu comentário durante o show.
Ficou difícil pontuar o momento de destaque dessa noite, já que todas as faixas escolhidas são grandes sucessos, seja por sua beleza musical com tom nostálgico, seja pelas letras repletas de metáforas e temas que transcendem o efêmero e permanecem atuais, carregadas de uma filosofia quase etérea: falam de amor, esperança, conexão com a natureza e também trazem crítica social e política. E foi assim também com as faixas apresentadas na última parte do show “Amor de Índio”, “Paisagem da Janela” e “Sal da Terra”, músicas que fazem parte da memória coletiva da música popular brasileira.
No final, enquanto as luzes se apagavam, o eco dos aplausos e das vozes continuava; o público pedia mais outros sucessos como “Equatorial”, que ficou de fora do setlist.
O fato é que, em um mundo onde a efemeridade parece reinar e onde tudo se dissolve rapidamente, como diria Bauman, Beto Guedes se ergue como uma das vozes que venceu o tempo. Obrigada por compartilhar tanto conosco, Beto Guedes.
Setlist:
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