Nesta quinta-feira, 13 de julho, comemora-se o Dia Mundial do Rock — que, apesar de ser “mundial”, só é celebrado no Brasil — e, tradicionalmente, ao longo do dia diversos debates pipocam nas redes sociais sobre a situação atual do bom e velho rock ‘n’ roll. Afinal, o gênero, que já foi dominante nas paradas de sucesso e nas rádios tanto aqui quanto em outros mercados, hoje sobrevive com certo distanciamento dos holofotes que iluminam o grande público.
Durante a semana, alguns eventos no Rio vão celebrar e, por que não?, discutir a relevância que o rock já teve e ainda tem. Ainda nesta quinta, por exemplo, o Imperator, no Méier, terá programação 100% voltada ao gênero. Entre 13h45m e 20h15 o centro cultural sediará três debates com entrada gratuita, recebendo jornalistas, produtores e executivos da indústria musical: “O mercado do rock – desafios e perspectivas para a cena rock”, “Jornalismo musical hoje – O rock em pauta” e “Rock & identidade – A cena contemporânea, algoritmos e os desafios de hoje na produção musical”.
À noite, o Imperator abre as portas para três bandas de destaque no cenário underground (alternativo, independente, como preferir): The Baggios, Medulla e Posada e o Clã. No sábado, na Marina da Glória, será a vez de Plebe Rude, Blitz, Humberto Gessinger e Frejat comandarem, no Festival de Inverno, a comemoração pelos 35 anos do Rock Brasil.
Mas, afinal, o quão mais difícil é viver e fazer o rock no Brasil na década de 2010, em comparação com o que foi em sua “era de ouro”, na década de 1980? Conversamos com alguns dos artistas que vão se apresentar no cidade durante a “semana do rock”.
Para Tuti AC, guitarrista do Medulla, por exemplo, “o independente, hoje, é o mainstream”:
— A gente conseguiu andar conforme o mercado da música foi mudando também. O Medulla já foi de gravadora grande, circulou pelo mainstream e fez a volta para o independente (a banda meio carioca meio paulistana está na estrada desde 2005). Tivemos que nos adaptar, entender como trabalhar com as ferramentas de internet… Entendemos que é um trabalho e, por isso, precisa ser diário. Assim como um cara que trabalha numa obra precisa erguer uma parede por dia, nós também precisamos fazer certos tipos de coisas para que tudo ande e, assim, possamos tocar, passar nossa mensagem e chegar nesse momento com uma estrutura legal.
Na opinião de Humberto Gessinger, que leva à Marina da Glória a turnê de 30 anos do álbum “A revolta dos dândis”, de sua (ex?) banda Engenheiros do Hawaii, os novos tempos e o patamar de dominação perdido não devem ser temidos. Muito pelo contrário.
— Eu não tenho saudade alguma dos anos 1980 (risos). Não foi o período em que eu me senti mais feliz fazendo música e também não sei se foi meu melhor período de produção — avalia o cantor e compositor. — Hoje, quase nada é igual. Mudou a maneira como se tem acesso a música, é uma loucura isso. Eu me sinto mais à vontade com o som que eu faço hoje sabendo que o pop rock não é a bola da vez. Você pode rodar mais, ter um contato mais direto com quem gosta do teu som, isso te deixa mais ágil.
A banda sergipana The Baggios, por exemplo, não para de circular. Com o lançamento de “Brutown”, seu quarto álbum de estúdio, o grupo tem tido agenda cheia no Brasil e foi confirmado, nesta quarta-feira, como atração do festival Pop Montreal, marcado para setembro, no Canadá.
— Eu sempre tratei o ato de fazer música como uma paixão pessoal. Nunca compus visando o mercado e não consigo imaginar essa vida como uma forma de negócio. Então, ter um trabalho sendo notado e poder circular pelo Brasil e pelo mundo é uma consequência ótima dessa paixão — afirma Julio Andrade, vocalista e guitarrista da banda.
FORMA E CONTEÚDO
Vocalista e compositor da Plebe Rude, que traz ao Rio a turnê do álbum “Nação daltônica” (2015), Phillipe Seabra lembra que hoje em dia existem dois tipos de rock nacional: o que toca nas rádios (as poucas que voltam sua programação ao gênero) e o underground.
— O que toca é bobinho, é insosso, é vazio. Na época do Rock Brasília, as rádios ainda não tinham virado máquinas de fazer dinheiro. Tinham letras densas na rádio e que faziam sucesso. Hoje, eu escuto umas bandas que se você tirar a batida e botar a do sertanejo é quase a mesma coisa. O sertanejo tomou conta até do visual punk, com calças rasgadas e tudo mais — critica.
Seabra diz que não tem nenhum letrista hoje que chama sua atenção no rock brasileiro, nem no underground. E vê uma explicação para isso:
— Acho que é uma questão de referência. A juventude que tem feito música hoje cresceu com muita televisão, onde vem tudo mastigado. Em Brasília, nós éramos filhos de acadêmicos, assistíamos a filmes do Truffaut, e isso faz diferença.
Gessinger, por sua vez, é menos radical ao fazer a comparação.
— Acho que não dá para julgar a molecada de hoje e comparar com outros tempos. Sabe lá as dificuldades que esses caras enfrentam hoje em dia para o fazer o som que fazem — justifica. — Eu fico meio cabreiro quando vejo gente das antigas dizendo que a onda do rock piorou. Hoje, o ouvinte é menos passivo, ele vai atrás, mas eu duvido que seja pior do que era nos anos 1980 para que vai atrás desse tipo de som.
Tuti, do Medulla, já acumula 24 anos de carreira e trabalhou com artistas de diferentes gerações. Para ele, o segredo da comparação é que o discurso, não só no meio musical, mudou muito da década de 1980 para cá:
— A gente está lutando para gol do mesmo lado que todo mundo sempre fez. É preciso entender que o mundo é outro, que as pessoas e ideias não são as mesmas.
ROCK É PEDRA
Com a autoridade de quem está nessa há 35 anos, Evandro Mesquista, que se apresenta com a Blitz no Festival de Inverno da Marina da Glória, mostra otimismo quanto a longevidade do gênero, mesmo à margem das paradas de sucesso.
— É aquela coisa: enquanto houver uma garagem com um adolescente berrando e tocando uma guitarra, o rock vai estar aí para protestar, imprimir uma sonoridade diferente com seus três, quatro, cinco acordes. O rock não morre, não. Pode estar agonizando, mas vai estar sempre aqui — aposta. — Gosto da definição do poeta Chacal: o rock é pedra. É uma arma, uma coisa primitiva, que não precisa ser tão intelectualizada para trazer uma poesia direta.
SERVIÇOS
Dia Mundial do Rock com The Baggios, Medulla e Posada e o Clã
Quando: quinta-feira, às 20h. Onde: Imperator – Rua Dias da Cruz, 170, Méier. Quanto: R$40 (inteira). Classificação: 16 anos.
Festival de Inverno – Rock Brasil
Quando: sábado, às 18h. Onde: Av. Infante Dom Henrique, S/N – Glória. Quanto: De R$65 a R$ 105. Classificação: 18 anos.
Texto de Luccas Oliveira
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