Mais contemporânea do que nunca, dona de uma voz peculiar que repercute há seis décadas, a mulher do fim do mundo reinventa-se como pessoa e cantora, surpreendendo o público a cada música apresentada nesta última sexta-feira no icônico palco da Lapa. Elza cantou sobre violência doméstica, questões de gênero e a realidade dos negros.

Com 60 anos de uma carreira marcada pela ousadia na forma de cantar, Elza começou a noite com um poema de Oswald de Andrade cantado à capela: “É o navio humano, quente, negreiro do mangue”, diz o poema do poeta antropófago. Elza representa o próprio navio, sempre navegando e demonstrando incômodo quando está parada. Esta é também a primeira faixa do álbum “A Mulher do Fim do Mundo” (2015), seu 34º álbum de estúdio que, por sinal, venceu o Grammy latino na categoria melhor álbum de música popular brasileira. A mulher do fim do mundo ganhou até edição em vinil!!! Um luxo!

A cantora seguiu o show afirmando que quer cantar até o fim, como está nos versos da música que dá título ao álbum. A festa continuou com “O Canal” e “Luz Vermelha”, que também fazem parte deste último álbum composto inteiramente por músicas inéditas. Em sequência, Elza apresentou “A Carne” e comentou quea carne mais barata do mercado “já foi a carne negra, não é mais”. Era uma cena incontestável, estávamos diante de uma mulher visceral e indomável.

O samba-de-breque com pegada punk “Maria da Vila Matilde”, que versa sobre violência doméstica, também marcou presença e contou com a participação do público, repetindo o número 180, a pedido de Elza.

Outro destaque do show foi aperformance M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-A do cantor e ator Wilson Alves França, conhecido como Rubi, na música “Benedito”. Elza estava cercada pelo núcleo criativo formado por Rodrigo Campos e Kiko Dinucci (guitarras), Marcelo Cabral (baixo) e Felipe Roseno (percussão).

Antes do bis, Elza recitou o poema “Metade Pássaro” de Murilo Mendes, que retrata a mulher do fim do mundo: “Dá de comer às roseiras, dá de beber às estátuas, dá de sonhar aos poetas”. Não é à toa que a mulher do fim do mundo foi considerada “a melhor cantora do milênio” pela BBC.

Elza Soares
Circo Voador, Rio de Janeiro
03 de fevereiro de 2017

Coração do Mar
A Mulher do Fim do Mundo
O Canal
Luz Vermelha
A Carne
Dança
Firmeza
Maria da Vila Matilde
Pra Fuder
Benedita
Malandro
Solto
Comigo
Bis:
Volta por Cima
Paulo Vanzolini cover)
Pressentimento


Fotos de Viviane Natalino