Uma das questões discutidas entre os fãs dos Foo Figthers antes da apresentação do grupo no Maracanã, na noite deste domingo, era a quantidade de músicas de seu último disco, “Concrete and gold” (2017), que seria espremida em meio às dúzias de sucessos. Foram quatro: “Run”, que abriu a noite, “The sky is a neighborhood”, “Sunday rain” (“Chuva de domingo”, algo que boa parte do público temia, mas não aconteceu) e “Make it right”.
Entre as muitas variáveis, o instituto DATARROCK destaca duas:
1 – Os Foo Fighters têm nove discos de estúdio, contra sete dos QOTSA;
2 – A banda de Dave Grohl tem dúzias de sucessos, músicas realmente populares, e foram elas que deixaram os fãs com largos sorrisos ao fim da apresentação de duas horas e meia.
— Será uma longa noite — disse Grohl ainda no começo, quando o sexteto emendou hits como “All my life”, “Learn to fly” e “The pretender”, já deixando o público quicando.
A noite, na verdade, teve a duração tradicional de um show do Foo Fighters, e poderia ter tido até mais músicas, não fossem as jams entre os músicos (excelentes para os fãs de um rockão de bater cabeça, mas nem tanto para os fãs “de rádio”), alongando as músicas, e as incontáveis presepadas do deputado Dave Grohl, sempre querendo agradar seus súditos.
— Quem já viu um show dos Foo Fighters? Quem nunca viu? Bom, vamos tocar músicas de todos os discos. Quem gosta do primeiro? E do segundo? O terceiro? — E lá foi ele até o oitavo, quando alegou que não sabia quantos discos sua banda tinha.
O repertório foi até bem distribuído, com sucessos antigos como a crua “Monkey wrench”, do segundo disco, “The colour and the shape”, de 1997, e “This is a call”, do LP homônimo, gravado por Grohl sozinho e lançado em 1995, pouco mais de um ano após o suicídio de Kurt Cobain, líder do Nirvana, banda da qual Grohl era o baterista.
Por falar em baterista, Taylor Hawkins, que pilota as baquetas no Foo Fighters, foi uma espécie de vice-astro da noite: ao ser apresentado (os cinco músicos tiveram seus rapapés), ele mandou um trecho de “Love of my life”, do Queen, puxando o corinho à la Rock in Rio de 1985 da galera, até trocar de lugar com o chefe e, na posição de cantor, mandar outra da banda inglesa, “Under pressure”, com autoridade.
A categoria cover, que teve também “Under my wheels”, de Alice Cooper, cantada pelo guitarrista Chris Shiflett (mas pouco conhecida do público), e os indefectíveis Ramones (“Blitzkrieg bop”) atingiu o auge já no bis, com “Let there be rock”, do AC/DC, furiosa, com direito a foto gigante de Malcolm Young, recém-falecido guitarrista da banda australiana, no palco.
Faltou “Generator”, faltou “Skin and bones” — podiam ter entrado no lugar de algumas das brincadeiras de auditório —, mas sobraram bons momentos: o coro no “ô ô ô” de “Best of you” fez soar o gongo do arrepiômetro, dando ao show (e à banda) o carimbo de qualidade, com estrelinha dourada em tempos de guitarra em crise.
© Agência O Globo, distribuído via NTR. Texto de Bernardo Araújo.
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