O Korn não é mais o mesmo – e isso pode ser algo bom.

Quem esteve no Espaço da Américas na noite desta quarta, 19, presenciou um espetáculo de sensações mistas. Em um show correto, que reproduziu na íntegra o setlist das outras apresentações da turnê do novo disco The Serenity of Suffering, o Korn entregou um rolo compressor de músicas clássicas com ares de novidade. Um verdadeiro embate entre a tradição de uma banda que vai se tornando cada vez mais uma “antiguidade” do rock e sua fome de experimentação.

“Quem se importa com o disco novo do Korn?”

Todo mundo, aparentemente. Vamos à matemática: das 16 músicas apresentadas durante a curta apresentação (1h20 contados no relógio em show de turnê? Complexo), apenas duas eram do disco novo. Fez diferença? Para os fãs dos álbuns mais antigos, não. Rotting in Vain e Insane se perderam por completo em meio às clássicas Here To Stay, Somebody Someone, Y’all Want a Single e a excepcional Coming Undone, que contou com um pequeno gostinho de We Will Rock You, do Queen. Já para os fãs assíduos, que consomem cada lançamento do grupo e aguardam ansiosamente por mais uma chance de ver seus ídolos ao vivo, ambas canções entram na lista de letras a serem decoradas e entoadas a plenos pulmões a cada oportunidade.

Não foi um show ruim, vejam bem. Contando 80 minutos de apresentação, a primeira grande pausa do grupo veio apenas após meia hora de palco. Esse é um ritmo impressionante para qualquer banda que não traga o sobrenome “Ramones” e utilize mais de três acordes em suas músicas. Com grande agilidade e excelente controle do público, Jhonatan Davis é um excelente show/frontman, capaz de transformar um happy-hour no meio da semana em um (bom) caos exacerbado, onde não se podia caminhar em meio à plateia sem esbarrar nas quatro ou cinco rodas punk que se surgiam, desapareciam e se mesclavam em meio à uma vibração alucinante. Os arranjos, os solos, a (excepcional) participação de Tye Trujillo deram um gostinho de novidade refrescante. E o público, encantado, não deixou de pular e cantar por um único segundo.

No entanto, o “fantasma” de Word Up ainda ronda o grupo. Entoada logo no primeiro bloco e eternamente marcada como um estranho flerte da banda com a música eletrônica (ou algo perto disso), ainda é a maior representação dos contínuos avanços da banda em busca de uma sonoridade diferenciada. A própria participação de Tye Trujillo, misteriosa por si só (o que aconteceu com Fieldy?), contribui em muito para a renovação da imagem da banda que, hoje, se prende à figura de um frontman de barba cada vez mais grisalha que tira longas pausas entre músicas e sai constantemente do palco. Que o rock não tem idade todo mundo sabe, e somos Team Jhonatan até o fim, mas não deixa de ser interessante observar que, agora, as (cada vez mais presentes) crianças na plateia tem alguém com quem se identificar.

O que esperar do Korn daqui pra frente? Não temos como saber, mas ficamos na torcida por um Jhonatan sempre enérgico, um grupo cada vez mais inovador e, sempre que possível, shows um pouquinho mais longos.

 

Setlist:

1 – Right Now
2 – Here to Stay
3 – Rotting in Vain
4 – Somebody Someone
5 – Word Up!
6 – Coming Undone + We Will Rock You (Queen)
7 – Insane
8 – Y’All Want a Single
9 – Make Me Bad
10 – Shoots And Laddres + One (Metallica)
11 – Solos
12 – Blind
13 – Twist
14 – Good God

Bis:

15 – Falling Away From Me
16 – Freak On a Leash