Casa por onde já passaram separadamente outras vezes, a Fundição ficou lotada de pessoas que estavam lá para assistir uma celebração ainda mais especial: Mano Brown e Criolo juntos, dividindo o palco, músicos e músicas.

De um lado, Mano Brown, líder dos Racionais MCs, um dos precursores do rap nacional. De outro, Criolo doido, como era conhecido no início de carreira, um dos grandes nomes atuais do gênero (e da mistura de tantos outros). Troca de experiências, batidas pesadas e rimas emocionantes. Vimos no palco um show extremamente energético e ao mesmo tempo sensível, que passeou por clássicos e explodiu nos hits, como era de se esperar.

Quem já teve o prazer de assisti-los anteriormente em shows próprios sabia que esse encontro só poderia resultar na mais alta experiência sonora. Com um instrumental caprichado, Criolo convida o público a começar a festa com “Convoque seu Buda”, do álbum homônimo de 2014. Na sequência, Mano Brown e seu parceiro Ice Blue puxam “Quanto vale o show”, para a plateia ter uma pequena ideia do que vem por aí: Criolo e Mano Brown em plena sintonia, cantando e dançando juntos música a música.

As letras de discurso social e político eram cantadas –e por vezes esbravejadas- pelo público presente, numa espécie de desabafo. Do clássico Fora Temer em alto e bom som antes da explosiva “Grajauex”, à capela do início de Jesus chorou, o show trouxe à tona o que só o rap é capaz de proporcionar: questionamentos pertinentes e urgentes acerca do que estamos vivendo hoje. As composições de cinco, dez ou vinte anos atrás nunca pareceram tão atuais.

Foi antes de “Sucrilhos” que Criolo convidou todos os presentes a levantarem suas mãos para uma “chuva de bênçãos”. Agradeceu imensamente pela honra de dividir o palco com um de seus ídolos da juventude, “a lenda viva dos Racionais”, como ele mesmo disse. Logo em seguida, o cantor convida a todos para uma rápida reflexão sobre a importância de estarmos ali reunidos, apesar de todas as adversidades. “Somos resistência e símbolo da sobrevivência do nosso povo”, disse ao microfone. “Chega de mortes nas favelas! Chega! A gente não aguenta mais! Não houve resposta sobre a Marielle, mas ela vive e está aqui hoje”, proferiu o cantor antes de convidar todos a entoarem em uma só voz “Marielle Presente”.

Depois das relíquias “Eu te proponho” e “Lion Man”, os donos da noite revelam uma surpresa: como se já não estivesse bom –e nostálgico- o suficiente, sobe ao palco ninguém menos que Gabriel, o Pensador. Em clima de festa, os três cantaram e dançaram o hit “Cachimbo da Paz”, de 1997.
O show foi caminhando para o fim na grave voz de Brown em “Eu sou 157” e logo após Criolo puxa o coro em “Menino Mimado”, música de seu último álbum Espiral de Ilusões.

Os dois se despedem do palco, mas o público sabia que era cedo demais, pois grandes clássicos estavam de fora. Não deu outra, logo voltam para fechar com as pedradas: Não existe amor em SP e Vida Loka.

Mano Brown e Criolo, 23 de junho de 2018
Fundição Progresso, Rio de Janeiro

Convoque seu Buda
Quanto vale o show
Fórmula mágica da paz
Subirusdoistiozin
Mano na Porta do Bar
Duas de Cinco
Grajauex
Na mesma tecla
Jesus Chorou
Cartão de visita
Sucrilhos
Eu te proponho
Lion Man
Cachimbo da Paz
157
Menino Mimado

Bis
Não existe amor em SP
Vida Loka

Direção musical: Daniel Ganjaman e Duani