Pela segunda vez, o Mayhem retorna ao Rio de Janeiro com sua turnê tocando na íntegra o álbum De Mysteriis Dom Sathanas. O público compareceu em peso e a ansiedade não poderia ser diferente, afinal a banda estaria invocando ao vivo uma época na qual este lançamento fez mudar todo o direcionamento do black metal como era e é até hoje praticado. Não obstante ao fato do som ser muito à frente do tempo que foi lançado, toda a aura enigmática do trabalho também repousa sobre os fatos que orbitaram o registro. A saber: o nascimento do Inner Circle, um grupo que procurava remover o cristianismo da Noruega e resgatar uma raiz e identidade há muito tempo esquecidos, estando envolvido em queimas de igreja no país. O suicídio de Per “Dead” Ohlin e o assassinato de Øystein “Euronymous” Aarseth pelas mãos de Varg Vikernes, mastermind do Burzum.

Apresentada as credenciais, é hora de partir para o concerto: As portas abriram perto de 18h e três bandas fizeram parte do ato de abertura: Svatan, 7 Peles e Enterro, todas passaram o recado de forma adequada e de acordo com suas características. Perto das 20h30, o Mayhem sobe ao palco e começa com a trinca que abre o registro. Funeral Fog, Freezing Moon e Cursed In Eternity mostram que, apesar do registro ter quase 25 anos de história, as músicas só melhoraram com o tempo. Além do mais, apesar de ter apenas dois músicos na formação atual que tocaram no álbum homenageado, os que entraram após (Necrobutcher, Teloch e Ghul) entenderam a proposta do álbum e da atmosfera que é desejável passar.

O resto da apresentação manteve o nível inicial, com grande destaque para a mesa de som que entendia perfeitamente o que estava sendo tocado ali e fazia com grande maestria movimentos que só deixavam as músicas mais intensas. É também notável toda a cenografia colocada em prática pela banda, com luzes em diagonais, capuzes e corpse paints que aumentam a dramaticidade desejada. Além, é claro, de toda a competência vocal de Atilla Csihar, que tem a incrível capacidade de mudar de tom, seja do gutural rasgado ao limpo grave, com grande habilidade e sutileza, sem parecer forçado. Outros grandes destaques da primeira perna da apresentação foram Life Eternal e Buried By Time and Dust.

Terminada a execução do álbum, ainda sobrou tempo para os noruegueses voltarem ao palco sem os ornamentos vistos (inclusive Necrobutcher retorna sem camisa e com boné aba reta voltada para trás) e tocarem outros clássicos, como Deathcrush e Pure Fucking Armaggedon, levando o último suspiro de energia dos fãs e fazendo o Teatro Odisseia vir abaixo. Falando nisso, o local do show foi escolhido de última hora depois de ser trocado duas vezes, mas ao final da apresentação, pareceu ter sido a melhor escolha para o evento.

Mais do que apenas apresentar um show, o Mayhem revive o passado fantástico e controverso de sua história com dignidade. Mesmo trazendo um show já visto pelo público carioca, muitas mudanças cenográficas e na segunda parte do set fez com que o dinheiro investido pelo público, que compareceu de forma razoável, valesse a pena. Mas, como esse, todo show do Mayhem vale a pena, afinal, é a história sendo recontada em frente aos nossos olhos.

Mayhem, Teatro Odisseia
08/06/2018, Rio de Janeiro

Funeral Fog
Freezing Moon
Cursed in Eternity
Pagan Fears
Life Eternal
From the Dark Past
Buried by Time and Dust
De Mysteriis Dom Sathanas

Encore:
Deathcrush
Psywar
To Daimonion, Part I
Carnage
Pure Fucking Armageddon