E tudo acabou em muito samba no MIMO Festival. Depois de oferecer 46 atrações gratuitas de música, cinema e educação pela cidade durante o fim de semana, o evento foi encerrado com o show “Espiral de Ilusão”, inteiramente dedicado ao samba, do rapper Criolo. A apresentação do paulistano, uma das maiores revelações da MPB dos últimos anos e admirado por estrelas como Chico Buarque e Caetano Veloso, reuniu cerca de 10 mil pessoas na Marina da Glória, palco principal do evento.

“O MIMO é um festival gigantesco, meu pai. Eu me sinto muito honrado de ter sido convidado a participar, ainda mais por ser uma apresentação gratuita dentro de um festival que teve um cuidado muito grande com a curadoria. Estar no palco, para mim é um momento de muita emoção, de muita intensidade, de muita entrega. Minha relação com o Rio é de muito carinho, existe amor no Rio de Janeiro”, destacou Criolo.

Laura Perrudin. Foto: Rogerio von Krüger

Durante o domingo, outro destaque foi o concerto da harpista francesa Laura Perrudin, no Outeiro da Glória, seguido da tradicional “Chuva de Poesia”, do lado de fora da Igreja. Neste momento único do festival, papeis coloridos voaram do alto das torres do Outeiro, com poesias de Hilda Hilst, Ana Cristina César e Emily Dickinson, entre outras, escolhidas sob o tema “Mulheres Poetas Pelo Mundo”. “Todo mundo merece um banho de poesia”, destacou a cantora Aline Paes, que se apresentou na abertura do festival na Marina da Glória.

Música do mundo
O Festival fez valer mais seu slogan: “O seu passaporte para a música no mundo”. Foram atrações de dez países (França, Madagascar, Mali, Marrocos, México, Congo, Colômbia, Portugal, Sérvia e Angola), além das brasileiras. O evento é tido como um dos mais democráticos do país, por não cobrar ingressos para os concertos, que também aconteceram em igrejas (da Candelária, Nossa Senhora de Bonsucesso e Outeiro da Glória); além do Festival MIMO de Cinema, com curadoria da cineasta Rejane Zilles, que lotou o Cine Odeon com exibição de 13 filmes sobre música; e a Etapa Educativa e o Fórum de Ideias, no Museu da República, que atenderam a mais de 400 alunos.

“Costumo dizer que o MIMO não é um festival, é uma experiência. Vivemos um momento negativo, em especial no Rio, e o MIMO é um acontecimento muito positivo. Trazemos músicos e cineastas que têm coisas para dizer, acrescentar outros pontos de vista à nossa realidade. É um encontro que vai muito além da música”, destaca Lu Araújo, idealizadora e diretora artística do evento.

Atrações para todos os públicos

Emir Kusturica. Foto: Rogério von Krüger

Entre as atrações internacionais, teve o violinista francês Didier Lockwood; os africanos do 3MA; o africano Vieux Farka Touré com seus riffs e solos de guitarra; o grupo Ondatrópica, considerado o “Buena Vista Social Club da Colômbia”; o angolano Paulo Flores mostrando o som do “semba”, ritmo africano que, segundo pesquisadores musicais, teria dado origem ao nosso “samba”; o rockeiro português Manel Cruz; e o cineasta e músico sérvio Emir Kusturica – que não vinha ao país há 15 anos, que fez uma super fanfarra com sua banda, “The No Smoking Orchestra”. “Fiquei muito feliz em poder voltar ao Brasil após tantos anos. É um país grandioso, com uma cultura forte. Sou fã da bossa nova e do futebol brasileiro”, contou Kusturica, que também fez a prèmiere de seu último filme, “Na Via Láctea”, que estrela com a atriz italiana Monica Bellucci, no Festival MIMO de Cinema.

Emicida e Lingua Franca. Foto: Beto Figueroa

Entre as atrações brasileiras, teve o baiano Russo Passapusso, vocalista do BaianaSystem, que tirou todo mundo do chão com seu som pulsante e contou com a participação de Antonio Carlos e Jocáfi levando a plateia ao delírio com o clássico “Você Abusou”. Os rappers Emicida e Rael e a portuguesa Capicua apresentaram seu projeto “Língua Franca”, que concorre ao Grammy Latino, assim como o grupo francisco, el hombre, com brasileiros e mexicanos.

Cine MIMO
No Cine Odeon, o Festival MIMO de Cinema teve cinebiografias como “Torquato Neto”, de Eduardo Ades e Marcus Fernando; o documentário “Sobre Noiz”, de Emicida”, e foi lindamente encerrado com “Fevereiros”, filme de Marcio Debelian sobre a trajetória de Maria Bethânia a partir do carnaval. “O MIMO sempre andou na contramão da crise. Nunca foi fácil realizar um festival deste porte e com uma programação internacional tão intensa e de graça. Em 2018, completamos 15 anos, sempre nos expandindo, inclusive na Europa. Acredito que, em momentos economicamente difíceis, a cultura torna-se ainda mais necessária ao bem-estar das pessoas”, enfatiza Lu Araújo, que no ano que vem inicia as comemorações na cidade de Amarante, em Portugal, onde o MIMO é realizado há dois anos consecutivos.

No próximo fim de semana, o festival segue para Olinda. A programação completa está no site www.mimofestival.com