O cantor e compositor Belchior morreu na noite deste sábado, em casa, em Santa Cruz (RS), aos 70 anos. A polícia acredita que a morte tenha sido natural. O governador do Ceará, Camilo Santana, decretou luto de três dias. O governo do Ceará vai providenciar o traslado do corpo, para garantir o desejo do cantor de ser enterrado em sua cidade natal, Sobral.
Nascido em Sobral (CE), em 26 de outubro de 1946, Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes tomou gostou pela música através do estudo na escola e do contato com a cultura popular, nas ruas da cidade do interior. Aluno brilhante e leitor voraz de literatura (devorou cedo “A Divina Comédia”, de Dante Alighieri), já em Fortaleza fez amigos como o compositor Fausto Nilo e estudou medicina. No entanto, optou por fazer carreira como cantor e compositor. Entre 1965 e 1970, tentou a sorte em festivais estudantis e tornou-se apresentador de um programa musical na TV local, em Fortaleza.
Em 1972, ao gravar “Mucuripe”, parceria de Belchior com Fagner, Elis Regina deu grande impulso à carreira do compositor cearense que no ano anterior havia trocado Fortaleza pelas grandes metrópoles do país — primeiro, o Rio; depois, São Paulo.
No Rio, junto a Fagner, Ednardo e outros artistas que buscavam um lugar ao sol, esteve próximo de um coletivo chamado Pessoal do Ceará. Estreou em disco solo em 1974 e, dois anos depois, a partir do segundo álbum, “Alucinação”, firmou-se como grande revelação da MPB. Além de contar com um repertório excelente, o disco tinha a guitarra de Rick Ferreira, fiel escudeiro de Raul Seixas, e teve sua trajetória de sucesso favorecida por uma série de fatos. Roberto Carlos havia gravado em 1975 “Mucuripe”, e Elis Regina também pinçara de seu cancioneiro “Velha roupa colorida” e “Como nossos pais”.
Sucesso popular e de crítica nos anos 1970 e começo dos 80, Antonio Carlos Belchior desenvolveu uma longa e regular carreira fonográfica até 1999. Nas últimas duas décadas, mesmo sem lançar discos, tornou-se objeto de culto e viu trabalhos como o álbum “Alucinação”, de 1976, serem aclamados como obras fundamentais da MPB.
De 1976 até o começo dos anos 80, Belchior viveu o auge de sua popularidade, culminando com o pop deslavado de “Medo de Avião”, incluído em “Era uma vez o homem e seu tempo”, álbum de 1979. Depois, teve experiências com gravadora independente, a Paraíso Discos, e até o começo dos anos 2000 tocou a carreira de maneira longe dos holofotes principais da mídia, mas com um público fiel.
O polêmico auto-exílio imposto a partir de 2009, motivado por uma separação e dívidas, levou a um afastamento total da mídia e perda de contato com familiares. Interrompido por brevíssimas reaparições, o sumiço só aumentou o culto a seu repertório, que inclui clássicos como “Galos, noites e quintais”, “Paralelas”, “Apenas um rapaz latino-americano” e “Todo sujo de batom”.
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