Belas canções que expressam a maravilha e o amargor de estar no mundo pelo viés de gente comum, assim como eu e você. Tudo isso partindo de uma banda cultuada, mas que está longe da postura rockstar. A apresentação dos escoceses do Belle & Sebastian no Vivo Rio foi marcante para além da música, e teve direito a pausa dramática, dueto inesperado no palco e muita ternura.
As boas-vindas ficaram por conta de “Nobody’s empire”, que iniciou os trabalhos assim como no álbum, o controverso “Girls in peacetime want to dance” (2015), que deixou muito fã desapontado por conta do flerte com o eletrônico. O disco colaborou com cinco músicas no show, estrategicamente encaixadas no setlist. Depois, “I’m a cuckoo” fez o público vibrar, até por significar o encontro com o B&S fofo de sempre, que encanta ao longo de quase 20 anos de carreira, celebrados em 2016.
Mas Murdoch queria ver o povo bailar e intimou os presentes com um “prontos pra dançar?” Depois dessa, até o mais ranzinza se deixou levar por “The party line”, que se não agrada no player de música, certamente funciona muito bem ao vivo. Vale destacar a empolgação de Murdoch comandando o show com suas dancinhas, além de suas tentativas de gastar um português meio incompreensível ao conversar com a plateia. Nisso aproveitou para dizer como era bom estar de volta e se desculpar pela demora em tocar por aqui novamente (5 anos passaram desde a última vez). Seu nome é carisma.
Vale registrar o cuidado estético da banda, marca registrada nas artes das capas dos discos ou nos clipes. Os vídeos complementando as músicas foram um destaque à parte, como em “Electronic renaissance”, com uma composição gráfica retrô e referência a games, as tomadas místicas em “The power of three” ou mesmo em “The party line”, criando um clima de balada. Bonito de ouvir e ver.
Depois da dobradinha das antigas “Seeing other people” e “Expectations”, o momento tenso do show: durante a execução de “Allie”, Murdoch se irrita e atira o violão no chão, o que deixa o público sem entender inicialmente o que havia ocorrido, pois aparentemente não se tratava de falha no som, ou qualquer outro problema técnico. Chega-se a pensar que a alça do violão havia arrebentado e o instrumento caído, ou outras teorias, de tão estranho que foi o episódio. Murdoch pega o violão, joga novamente no chão e deixa o palco, criando um certo constrangimento também aos demais membros da banda, que não sabem muito o que fazer. Todos perplexos.
Ao retornar ao palco, sob muitos aplausos, falou sobre a falha na voz e o quanto isso era frustrante, mas retoma a música e leva até o final, ainda sentido com o ocorrido, mas com apoio incondicional do público. Passada a comoção, setlist que segue! E seguiu bem, valendo até reflexão por parte de Murdoch: “nunca percam a calma como eu perdi”. E ainda lamentou pelo violão e que sua esposa ficaria triste por tê-lo quebrado…
Apesar de todas as atenções voltadas para o líder do B&S, outros integrantes tiveram seus momentos. Stevie Jackson liderou os vocais daquele jeito tímido característico em “The perfect couples”, assim como a super meiga Sarah Martin, em “The power of three”, para depois ser celebrada pelos presentes que fizeram coro entoando seu nome. Nem preciso dizer que ela ficou sem jeito.
Já chegando ao final, alguns felizardos tiveram a chance de subir ao palco, convidados pela banda em “The boy with the arab strap”, e curtiram como se não houvesse amanhã. Destaque especial para uma mocinha que simplesmente resolveu fazer um dueto com Murdoch, num dos momentos mais bacanas, certamente. E como o clima era de alegria total, a festa continuou em “The legal man”. No retorno para o bis, a banda atendeu a pedidos e mandou “Get me away from here, I’m dying”, para felicidade geral, assim como foi na comemorada “The blues are still blue”, que encerrou a terceira passagem do sexteto no Rio. Para fechar a semana com alma lavada.
Lembrando que o Belle & Sebastian continua o passeio pelo Brasil neste sábado (17), no Popload Festival, em São Paulo. Que show amigos!
Belle & Sebastian
Vivo Rio, 16 de outubro de 2015
Flamengo, Rio de Janeiro
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