Uma semana após as eleições que decidiram quem irá assumir a presidência do Brasil de 2019 até 2022, o Planet Hemp volta ao Rio de Janeiro para um show aguardado desde seu anúncio, pelo simples fato da proximidade das datas e do ar político que, independentemente de quem ganhasse, ainda estaria em voga. Pois bem, Jair Bolsonaro saiu vitorioso da “festa da democracia” e fará seu governo acompanhado de uma forte oposição e com contradições ainda mais presentes.
Numa véspera de feriado, era esperado que o show enchesse, mas foi além: ingressos esgotados na semana do evento. A ansiedade era mil e para abrir a festa em alto nível, Rincon Sapiência trouxe novamente seu show ao Rio de Janeiro. A dinâmica dessa vez era diferente, pois a última passagem, com Baco Exu do Blues, trouxe um show orgânico e com muitos instrumentos. Desta vez, o rapper subiu ao palco apenas com o DJ e as bases gritando de forma pesada e agressiva nos PAs da Fundição Progresso. Para embalar a noite, clássicos como Galanga Livre, Linhas de Soco e Ponta de Lança não puderam faltar no set. O público já se aglomerava no show do paulista, guardando o lugar desejado para o que viria a seguir.
No intervalo, uma apresentação de tecido entreteu os presentes, levada por uma ótima trilha sonora. Enquanto isso, o palco era trocado e as luzes testadas, juntamente com o telão. A esperança era de um show diferenciado e intenso, porém o que se seguir extrapolou o que era previsto: Com uma intro diferente dos outros shows anteriores, o Planet Hemp já começou se posicionando: No telão apareceram as frases “No dia 1º de janeiro de 2019, sai o vampiro, entra o demônio. É hora de lutar, diga não ao fascismo”. Com isso, Marcelo D2, B Negão e companhia entram no palco para executar a trinca “Não compre, Plante!”, “Legalize Já” e “Dig Dig Dig (Hempa)”.
O público começou o show já na mão do grupo. Enquanto Marcelo D2 proferia suas rimas ácidas, com destaque para “Ex-Quadrilha da Fumaça” e “Fazendo a Cabeça”, B Negão se posicionava de forma mais enfática, no meio das músicas e com bastante veemência. Músicas como “Raprockandrollpsicodeliahardcoreragga” e “Zerovinteum” foram mais intensas e tiveram uma resposta mais ardente do público, acredito eu, grande parte por esse movimento. O hardcore não ficou de fora do show, com “100% hardcore”, “Mary Jane” e “Seus Amigos”, essa última com a participação especial de MC Paulão.
Paulão também cantou no cover de “Crise Geral” do Ratos de Porão, que não foi a única homenagem da noite, também teve “Samba Makossa” do Nação Zumbi. Ao final do show, “Stab” reservou um grande momento e Mantenha o Respeito encerrou o show, com um grande adendo político dos vocalistas e uma extensa apresentação da banda, que culminou num final apoteótico e com ares épicos.
Em um momento político tão conturbado e toda a indefinição que isso traz ao futuro, o Planet Hemp se posiciona e faz com que seus fãs se atentem ao que está sendo dito e reproduzido por esses dinossauros da música brasileira. Embora a música do grupo seja do século passado, tudo ainda soa muito atual, dado o esquecimento do povo e do descaso das autoridades. A apresentação dos cariocas foi um grito de (R)existência e ainda soara nos ouvidos dos que estavam presentes por muito tempo, acredito eu, que por pelo menos quatro anos.
Planet Hemp na Fundição Progresso
01 de novembro de 2018, Rio de Janeiro.
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