A penúltima vinda de Ozzy Osbourne ao Rio não deixou uma boa impressão. Apesar da emoção de ver o Black Sabbath dando adeus aos palcos, em 2016, o cantor, assim como seus companheiros, não apareceu no melhor de sua forma, parecendo justificar a aposentadoria. Como Ozzy não para nunca, ele voltou ao país na última semana para mais uma suposta última turnê. Quase dois anos depois, neste domingo, a Arena Jeunesse viu um Ozzy muito mais jovial, cantando bem, ativo, divertido, à frente de uma banda redonda, com um repertório curto e grosso de hits.
A arena ainda se enchia (foram cerca de 10 mil pessoas, segundo a produção), quando, pontualmente às 20h30m, um vídeo apresentou o Príncipe das Trevas. Ozzy surgiu com um sobretudo roxo, mezzo-Cauby Peixoto, mezzo-James Brown, ao som de “Bark at the moon”, clássico que dá nome a seu disco de 1983. O disco foi a base de seus shows no Rock in Rio, em 1985, quando ele esteve na cidade e na Zona Oeste pela primeira vez.
Embora o som parecesse um degrauzinho baixo (ou o público, vários degraus barulhento demais), logo foi possível perceber o gogó em dia do cantor inglês de 69 anos. A banda também demonstrou sua maestria, azeitada no sétimo show em 15 dias. A perna latino-americana da turnê começou no dia 5, no México, e terminou agora, no Rio. Em junho, segue para a Europa, começando em Moscou no dia 1º.
Na guitarra, Zakk Wylde, além de mostrar os bíceps, levava as músicas com seu som sujo e preciso habitual. A cozinha de Blasko (baixo) e Tommy Clufetos (bateria) mantinha o piso firme para o brilho de Ozzy — que pareceu quase não usar os tradicionais teleprompters.
O repertório foi baseado na carreira solo, com pinceladas de Sabbath. Depois de “Bark at the moon”, “Mr. Crowley” e “I don’t know”, a primeira do clássico quarteto foi “Fairies wear boots”, do disco “Paranoid”, de 1970.
Animadão, o público cantava tudo o que Ozzy mandava, de refrãos a versos complicados como “Sorcerer of death’s construction”, de “War pigs”, mais um clássico do Sabbath em meio às pérolas ozzyanas. E também comprava o que podia: os copos comemorativos acabaram, e uma bela porção das camisetas oficias de R$ 100 da turnê também foi embora. O estacionamento da Arena ficou lotado, mas isso se deve mais ao número limitado de vagas, mesmo no espaço gigantesco disponível, do que a uma presença espetacular do público, já que a casa comporta cerca de 15 mil pessoas.
Depois de “War pigs”, o cantor foi dar aquela descansada e deixou o show nas mãos da banda — que contava também com o tecladista e ocasional guitarrista Adam Wakeman. O barbudão Wylde aproveitou a deixa, e já no longo solo de “War pigs” desceu para a beira do palco, onde tocou com o instrumento erguido atrás da cabeça e com os dentes, à la Jimi Hendrix.
Foi uma espécie de reconciliação de Wylde com os cariocas, a quem, em 2008, na mesma arena, entregou uma guitarra, que recebeu de volta em pedaços. A banda levou um medley de músicas de Ozzy até que ele voltasse, com “Shot in the dark”, uma gema de sua fase mais hard rock comercial, do disco “The ultimate sin”, de 1986.
A levada foi até o fim do tempo regulamentar, com “I don’t wanna change the world” e o clássico “Crazy train”, mais uma cantada em altos brados pelo público. O bis teve a baladaça “Mama, I’m coming home”, e o standard sabbathiano “Paranoid”, para lágrimas gerais.
Que Ozzy — cujo papo de aposentadoria começou com a primeira “No more tours”, em 1992 — mantenha a coerência e se aposente mais algumas vezes.
OZZY OSBOURBNE, 20/05/2018
Jeunesse Arena, Rio de Janeiro
“Bark at the moon”
“Mr. Crowley”
“I don’t know”
“Fairies wear boots”
“Suicide solution”
“No more tears”
“Road to nowhere”
“War pigs”
Medley instrumental: “Miracle man”, “Crazy babies”, “Desire”, “Perry Mason”
“Shot in the dark”
“I don’t want to change the world”
“Crazy train”
BIS
“Mama, I’m coming home”
“Paranoid”
*texto de Bernardo Araújo
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