Num certo ponto da madrugada de sábado no Rock in Rio, Drake confidenciou ao público que até estava nervoso antes do show, por causa da chuva. Mas que, no fim das contas, acabara fazendo a melhor apresentação de sua vida. “Todo artista fala isso, toda vez!”, objetou a menina que passara a noite cantando todas as músicas, sob pesada chuva em alguns momentos.
O poder do rapper canadense, headliner do primeiro dia de festival, está justamente aí: não importa o que ele diga, as suas canções falam por ele bem mais do que qualquer outra coisa. E Drake não quis arriscar nadinha em sua primeira passagem pelos palcos brasileiros: em pouco mais de uma hora, cantou 27 delas, quase todas hits monstruosos, cuidando apenas para que a temperatura do público não diminuísse. E, nisso, foi genial.
Como artista de uma nova era, a da consolidação do rap como o novo rock, o cantor e MC usou de todos os recursos possíveis para chegar com estardalhaço e empatia. Com uma gravação de “Aquarela do Brasil” interrompida com mão pesada pelo DJ para a entrada de “Started from the bottom”, ele começou a noite tendo a bandeira brasileira ao fundo, no telão.
Fez menção às horas de voo que enfrentou para fazer esse único show brasileiro e prometeu fazer a melhor festa que se poderia ter. O público jovem, em suas capas de chuva, reagiu com mãos para o alto, coros e coreografias à música do cantor, que alternou versões curtas de seus raps com muitos fogos e falatório, propondo jogos e brincadeiras para o público.
Sozinho no palco, o hiperativo artista promoveu um desfile esquizofrênico de suas várias personalidades artísticas: o marrento, o festeiro, o sensível e o romântico, cada um com seus hits correspondentes. A todo momento, lembrava o fato de estar no Brasil pela primeira vez, pedia para o público fazer barulho e se virava do avesso para que ninguém ficasse parado ou entediado.
Drake mostrava ter o ímpeto de um MC iniciante que partia para o tudo-ou-nada em uma boate, só que num palco gigantesco, para um mar de gente. No seu planejamento de diversão a qualquer custo, ele não se furtava a mutilar algumas de suas músicas mais conhecidas para ir logo para a seguinte – “Hotline bling” foi uma dessas interrompidas bruscamente, justo num momento de arrepiar, em que o público cantava por ele.
No entanto, algumas sequências de canções fizeram valer a noite, com sobras. Uma foi quando ele se estendeu, reflexivo e melódico, por “Passionfruit”, “Hold on we’re coming home”, “Controlla” e “Work”, seu dueto com a ex-namorada Rihanna, que transcorreu em momento de chuva pesada. Ou então a do final, quando convocou todos a irem para o “próximo nível” e mandou, seguidas, “Nice for what” e “In my feelings”.
O que Drake falou sobre as “sexy ladies” do Brasil, as mensagens no telão sobre a Amazônia em chamas, tudo mais foi ruído. Nada se compara ao poder do hit, interpretado por um rapper que conjuga flow, melodia e senso dramático como nenhum outro. Assim, com uma hora e 10 minutos de show “God’s plan” encerrou a noite de forma sublime – algo que nem a palestra motivacional, que Drake fez em seguida, foi capaz de estragar.
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