Foster the People é fofo mas não é bobo. “Sacred Hearts Club” dá a impressão de que os rapazes ignoram o fato de que o próprio conceito de álbum empalidece diante da força que o modo aleatório ganha entre consumidores de música. Nesta segunda década do século XXI, somos mais consumidores de faixas isoladas do que de discos (discos?) com começo, meio e fim. Só que é isto que “Sacred Hearts…” entrega. Começo, meio e fim.
Se você resolver ouvir as músicas na ordem decidida pelos artistas, vai construir uma história musical que contará com “go crazy moments”, a hora de bater o pezinho, de vibrar com a viradinha safada da guitarra (de Sean Cimino), e, claro, aquele momento de climão reflexivo de que todo artista indie-eletrônico-fã-de-Moby gosta.
A tal historinha que eles contam é enxuta. Intercalada com alguns interlúdios deliciosos, como “Orange dream”, em que a bateria de Isom Innis (recém-casado com a super-hot Carlson Young, do elenco série da “Pânico”, na Netflix) é a estrela, deixando o ouvinte-fã em grave estado viajandão; ou “Time to get closer”, a calminha que prepara os ouvidos para a porrada “Loyal like Sid & Nancy”, cuja paradinha… quer dizer, pancadão, vai deixar você perturbado.
Se você conseguir evitar o “twerking” mental, vai entender porque esta é a melhor faixa do disco. Com letra angustiante, que oferece várias camadas de interpretação e frases como “Yeah, you’re walking in stilettos, but your nose is bleeding out/ I’ve been running from the Devil, but the Devil is on my back”, “Loyal” puxa o carro em clima pop-parrudo. Mas o álbum também conta com capítulos do bem como “I love my friends” e a animadinha “Static space lover”.
No entanto, não dá muito para dizer que haja faixas com potencial para se tornar hits em “Sacred Hearts Club”. E, no caso de FTP, tal questionamento importa, já que os meninos ganharam notoriedade justamente por conta do megahit “Pumped up kicks”, em 2011. Tomara que este crítico quebre a cara e os caras arrebentem.
Cotação: bom
por Ronaldo Villardo, da Agência O Globo
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