Com uma estimativa de 1,5 milhão de foliões, qualquer lombada no asfalto virou arquibancada. As escadas da Alerj se transformaram em área VIP. Havia quem se pendurasse em árvores para conseguir ver de perto o carro principal, que levava a rainha, a madrinha e a porta-estandarte do Cordão da Bola Preta, que completou cem anos, atraindo gente de todas as idades — dos que acompanham o bloco há décadas a marinheiros mirins de primeira viagem — na manhã deste sábado.
Mesmo cedinho, os termômetros da Avenida Presidente Antonio Carlos já se aproximavam dos 30 graus. O desfile começou com céu nublado, mas sob forte calor, que só aumentava à medida que se aproximava do meio-dia. Para espantar o calorão, os foliões recorreram aos leques de papelão. Quem não tinha, improvisava. Até chapéu serviu para abanar.
Entre uma marchinha e outra, os integrantes do Bola Preta puxavam o “Parabéns para você”. Houve um princípio de confusão próximo à corda, mas foi rapidamente controlado pelos próprios foliões. Neste aniversário de cem anos, o que predomina é a harmonia. E como em todos os anos, a turma da terceira idade, ou da melhor idade, marcou presença no desfile. O público, aliás, é bem eclético: de crianças de colo a idosos.
— Meu marido tem 80 anos, está operado do estômago, mas veio. A gente não perde um carnaval do Bola — disse uma foliona.
Apesar das bolinhas pretas sobre o fundo branco terem dominado o cenário, havia fantasia para todos os gostos: bailarinas de roxo, minions, super-heróis, coelhinhos. O som também foi bem democrático. Após três horas de muita marchinha, o Cordão do Bola Preta abriu o repertório para outros gêneros da música brasileira, do axé de Netinho e Araketo até o MPB de Tim Maia e Wando. O desfile do bloco durou quatro horas. Os integrantes do Bola fizeram contagem regressiva para anunciar a abertura oficial do Carnaval do Rio:
– A folia só começa depois que o Bola desfila – anunciaram no microfone, recebendo uma salva de palmas e gritos do público.
“É um senhor com disposição de um jovem”. A analogia, feita por pela aposentada Suely Senna, de 74 anos, é sobre o centenário do Bola Preta, o bloco mais antigo do Rio. A receita para uma vida tão longa leva muitos ingredientes, e uma coisa é certa: o sucesso se repete há cem carnavais. Este sábado não está sendo diferente. O bloco deu início ao cortejo às 10h, cantando parabéns pelos cem anos e seguindo com a tradicional marcha “Quem não chora não mama”. A rainha do bloco, Cris Vianna, a porta-estandarte, Leandra Leal, e a madrinha do Bola Preta, Maria Rita, desfilaram no alto do carro principal.
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