Lá se vão mais de 20 anos desde que o Radiohead saltou da galeria de nomes do Britpop para a as arenas do mundo com a obra-prima “OK computer” (1997), disco de ambição ímpar (e resultados à altura), que fez deles uma espécie de Pink Floyd de sua geração. No tempo que passou, o grupo inglês mais do que manteve seu status — jogando de acordo com suas próprias regras, criou um universo no qual o experimentalismo, a estranheza, não são empecilhos para o sucesso.
Prova disso deram as 10 mil pessoas que acorreram na noite de sexta-feira à Jeunesse Arena para o reencontro do Radiohead com o público carioca, no Soundhearts Festival. No lugar do Krafktwerk e de Los Hermanos de 2009 na Apoteose, os anfitriões trouxeram o grupo de world music Junun (do qual faz parte seu guitarrista, Jonny Greenwood) e o DJ americano Flying Lotus. Eles deram o tom em uma celebração na qual não faltaram emoção, beleza, mistério, luz e som para preencher todo o espaço da casa de espetáculos de Jacarepaguá — e os corações do público.
A entrada do Radiohead no palco foi silenciosa. E, com toda a delicadeza, eles começaram seu recital com “Daydreaming”, música de seu mais recente álbum, “A moon shaped pool” (2016). O vocalista (e eventual tecladista e guitarrista) Thom Yorke é a força motriz do grupo, com suas melodias mântricas, alta exposição emocional e dança maníaca. Mas ele tem seu melhor complemento em Jonny, que alterna instrumentos e arquiteta as texturas sonoras do grupo, executadas com precisão por Philip Selway (bateria), Ed O’Brien (guitarra), Colin Greenwood (baixo) e o músico de apoio Clive Deamer (na bateria adicional).
Com shows à parte da luz, do aparato visual e do próprio público — diferente do de qualquer outra banda de rock, em sua paixão, dedicação e gosto pela novidade —, os ingleses seguiram um roteiro padrão, que passou pela jazzy e rítmica “15 step”, a torta “Myxomatosis” e a intensa “Everything in its right place”, que foi tocada em uma versão mais nervosa que a da gravação do disco “Kid A”(2000) — separados de suas guitarras, Greenway e O’Brien faziam uma bela cena, ajoelhados, manipulando os efeitos dos pedais de seus instrumentos.
“No surprises”, de “OK computer”, foi o primeiro grande hit da noite, embora isso não pareça ter feito diferença para o público, que se fartou com faixas menos conhecidas da banda . Afinal, a sedução do Radiohead muitas vezes não passa pela canção em si, mas pelos climas que o grupo consegue criar e o tanto de nervos e sangue que Thom Yorke consegue derramar no palco.
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