“Eu me despeço de todos vocês”, cantou Jimmy London a uma certa altura do show do Matanza, na madrugada de ontem, no Circo Voador. A letra de “Tempo ruim”, uma rara canção de esperança e amor — oi? — da banda carioca, previa que ele continuasse com “Muitos aqui não verei outra vez”. Mas o gigantesco cantor da hirsuta barba ruiva se calou e olhou o público enquanto seus quase ex-companheiros de banda seguiam tocando. A galera, que esgotou os mais de dois mil ingressos dez dias antes do show e urrava como se não houvesse amanhã — o que era o caso, de certa forma — desde a primeira música, pareceu pega de surpresa e não respondeu. Ficaram, cantor e público, se encarando por alguns segundos, ao som do instrumental pesado e preciso como sempre de Maurício Nogueira (guitarra), Doni Escobar (baixo) e Jonas Cáfaro (bateria).
O show foi o último do Matanza no Circo Voador, e possivelmente, em sua cidade natal. Há cinco meses, a banda — que ao longo de 22 anos foi atração regular na casa, sempre lotada — anunciou que se separaria, por desentendimentos entre o cantor e os companheiros (incluído aí o guitarrista, compositor, diretor gráfico e gênio do mal Marco Donida, que não participava de shows há cerca de uma década).
— Vocês não sabem como eu vou sentir falta de tudo isso — disse Jimmy, que viu o público abrir insanas rodas de pogo e berrar músicas como “O chamado do bar”, “Santa Madre Cassino”, “Mulher diabo” e “A arte do insulto”.
Apesar do clima de despedida, também havia alegria na interação entre banda e público, sempre próxima, e o tradicional humor cáustico do cantor — que disfarçou bem a emoção. Depois de quase duas horas e 31 músicas, executadas com a precisão de sempre, foram três para um lado e um para o outro, todos sob aplausos.
* Texto de Bernardo Araújo
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