Em sua terceira passagem pelo Rio, o Arcade Fire mostrou o quanto consegue equilibrar com maestria o apelo mainstream com uma sonoridade conceitual. A banda trouxe ao palco da Fundição Progresso a turnê “Infinite Content”, que trabalha o quinto álbum de estúdio, “Everything now”, que a propósito, teve uma recepção bem dividida por parte do público e crítica.

Como se não bastasse, vale lembrar da mudança do local da apresentação, que inicialmente seria na Jeunesse Arena, esta com uma capacidade bem superior a da Fundição, deixando um suspense no ar em relação ao que esperar. Isso em um contexto amplo, no qual a imprensa especializada noticiou público abaixo do esperado em alguns shows da turnê no exterior.

Mas o Arcade Fire tem um trunfo: um belo repertório do qual pode tirar proveito, aliado ao carisma junto ao público. Pontualmente às 22h (um milagre, quando se trata de shows na cidade, vale ressaltar!), a banda toma seu lugar e recebe o pessoal com a dançante “Everything now”. A partir daí, foi “tudo agora” ao mesmo tempo (com o perdão do trocadilho), já que o setlist foi bem esperto ao alternar hinos indie como “Rebellion”, “No cars go” e “Ready to start” com as ainda frescas “Put your money on me” e “Electric blue”, do novo álbum, sem espaço para momentos de dispersão.

Além do quesito música, o cuidado estético não ficou de lado. O palco que deveria ser 360º, como vem acontecendo na turnê, mas que ficou inviabilizado com a mudança de local, foi adaptado, e o destaque foi o telão LED exibindo projeções em sinergia com jogos de luzes que enriqueciam a performance dos músicos, criando a atmosfera perfeita para se jogar.

A banda também se jogou, inclusive no público, quando o frontman Win Butler resolveu conduzir o show da plateia durante “Afterlife”, deixando uns incrédulos e outros enlouquecidos. Régine Chassagne também teve seu flerte com os fãs, ao protagonizar com delicadeza a etérea “Sprawl II”, um dos momentos mais bacanas da apresentação, sendo ovacionada pelo público. Ainda teve espaço para reflexão com “We exist”, que ganhou caráter político, quando a bandeira LGBT foi lançada ao palco do público – a música é sobre homofobia – e Butler a deixou em destaque no pedestal do microfone para lembrar a razão de ser da composição.

Foi uma noite em que a música mostrou suas melhores facetas. Seja como arte, para admirar; como entretenimento, para se acabar de cantar e dançar; ou como força para tentar melhorar o estado das coisas. Um show assim só poderia ter um final apoteótico com mais Arcade Fire indo pra galera, literalmente, quando ensaiou algumas batucadas com músicos convidados no meio do pessoal, depois da catártica “Wake up”. Uma noite que ficará na memória.

Arcade Fire
08 de dezembro de 2017
Fundição Progresso, Rio de Janeiro

1. “Everything Now”
2. “Rebellion (Lies)”
3. “Here Comes the Night Time”
4. “Haïti”
5. “Peter Pan”
6. “No Cars Go”
7. “Electric Blue”
8. “Put Your Money on Me”
9. “Neon Bible”
10. “My Body Is a Cage”
11. “Neighborhood #1 (Tunnels)”
12. “The Suburbs”
13. “The Suburbs (Continued)”
14. “Ready to Start”
15. “Sprawl II (Mountains Beyond Mountains)”
16. “It’s Never Over (Oh Orpheus)”
17. “Reflektor”
18. “Afterlife”
19. “We Exist” (Tour debut)
20. “Creature Comfort”
21. “Neighborhood #3 (Power Out)”

Bis:

22. “We Don’t Deserve Love”
23. “Everything Now (Continued)”
24. “Wake Up”