O show do Rolling Stones é uma experiência obrigatória se você acredita ser um entusiasta do rock. Seja a primeira ou a quarta vez, não importa. É fazer parte de um pedaço da história desse gênero musical contestador, irreverente e libertador, com uma das bandas fundamentais em sua definição.

Cada pessoa no Maracanã já tinha certeza de que seria um espetáculo. Mesmo assim, é inevitável não se impressionar com uma banda cujos integrantes do alto de seus 70 e poucos anos esbanjam vigor, além da sagacidade e sensualidade que emanam de suas músicas.

Tudo flui, ao contrário dessas apresentações frias e calculadas milimetricamente que infelizmente já estamos nos acostumando a assistir. E claro, isso se deve não apenas à mística dos Stones, mas principalmente à força das composições acumuladas ao longo de cinquenta anos de trajetória. E para ficar melhor, um showzaço em pleno sábado, considerando que os fãs de rock cariocas vêm sofrendo com apresentações em dias ingratos.

São Pedro poderia ter sido mais bacana e segurado o temporal, marca registrada dos verões na cidade, o que fez o show atrasar. Faltando pouco para o início, o público garantiu o espetáculo com “olas” empolgadas nas arquibancadas, como se convocasse a banda.

Mas pouco depois das 21h30, horário marcado para o início, um integrante da produção precisou enfrentar o pessoal ansioso e algumas vaias ao dar a notícia de que o show atrasaria, devido a alguns problemas técnicos. Um deles acabou evidente ao longo de toda a apresentação: um dos telões de LED apresentou falha durante o show, mas no final das contas isso não importou.

Ao apagar das luzes, público ensandecido até mesmo com a abertura que trouxe no telão uma animação embalada ao som de uma música clichê de pegada latina, tudo para mostrar que os Stones invadiram o Brasil. Aí a coisa ficou séria: surgia no palco Keith Richards com os primeiros acordes de “Start me up”, levantando o Maracanã lotado e Jagger comandando o espetáculo, mostrando pelas quase duas horas seguintes como se mantém uma trajetória íntegra na música.

O setlist foi generoso e não diferiu muito do que já foi apresentado nos shows anteriores pela América do Sul. Passeou pelos hits enérgicos como “It’s only rock’n’roll” e “Jumpin’ Jack Flash”, a passional “Angie” e a sombria “Paint it black”, passando ainda pelas composições de pegada mais blueseira, como “Brown Sugar”, “Midnight rambler” e “Honky, Tonk Women”. E ainda teve o plus, que ficou por conta da escolhida por votação, “Like a rolling stone”, cover de Bob Dylan. A grandiosidade da banda não ofuscou o público, este que não se contentou em ser mero coadjuvante: as canções ficavam robustas ao serem entoadas em coro, preenchendo o estádio. Bonito de ver.

Tudo que se esperava estava lá: os “moves” de Jagger, o charme de Ronnie Wood, o carisma irreverente de Keith Richards e a elegância de Watts, aliados ainda a uma banda de apoio competente e uma tremenda backing vocal, Sasha Allen, que roubou a cena em “Gimme shelter”. Keith Richards teve seu momento solo ao dominar o microfone em “You got the silver” e “Before they make me run”, e ainda se emocionou ao ser ovacionado pela plateia, que ali apenas reconhecia e agradecia pelos serviços prestados ao rock.

Já no bis, “You can’t always get what you want”, com participação do coral da PUC-Rio emocionou os presentes e preparou terreno para o final que todos já aguardavam, com “(I can’t get no) Satisfaction”. Seja iniciante ou iniciado, não se sai o mesmo de um show dos Stones. A “América Latina Olé Tour” continua com duas apresentações em São Paulo, nos dias 24 e 27 de fevereiro e segue para Porto Alegre em 2 de março.

Rolling Stones
Maracanã, Rio de Janeiro
20 de fevereiro de 2016

“Start me up”
“It’s only rock ‘n’ roll (But I like it)”
“Tumbling dice”
“Out of control”
“Like a rolling stone”
“Doom and gloom”
“Angie”
“Paint it black”
“Honky tonk women
“You got the silver”
“Before they make me run”
“Midnight rambler”
“Miss you”
“Gimme shelter”
“Brown sugar”
“Sympathy for the devil”
“Jumpin’ jack flash”
Bis:
“You can’t always get what you want”
“(I can’t get no) satisfaction”