A espera chegou ao fim. No fim de 2017, ao apagar das luzes, dois dos maiores artistas do cenário brasileiro desembarcaram no Rio de Janeiro para entregar seus shows intensos, são eles Baco Exu do Blues e Rincon Sapiência, provindos da Bahia e de São Paulo, respectivamente. Se os ingressos não se esgotaram, ficaram com certeza próximos disto. Embora no começo da noite o Circo ainda não estivesse cheio, logo o espaço foi ficando apertado e a atmosfera intensa.

Pouco passava da meia noite quando Baco Exu do Blues adentrou ao palco do Circo Voador para declamar suas rimas inflamadas de ódio vindas de uma fortaleza moral do baiano. Abrindo com o ataque sonoro com Intro, Abre Caminho e Oração à Vitória, logo na primeira trinca o rapper já mostrou porque é um dos nomes mais influentes do gênero no Brasil: rodas intensas, intensidade de sobra e todo o arsenal artístico funcionando como deve ser. O arcabouço visual do álbum Ésu (2017) foi fielmente retratado no background e todos os elementos musicais que enriquecem o som de Baco, como cânticos em iorubá, batuques e guitarras baianas. Músicas que demonstram isso são as ótimas Capitães da Areia, A Pele que Habito e Imortais e Fatais.

Mas Baco também mostra seu arsenal anterior ao álbum de estreia. Músicas como Faixa Preta, Disgraça do Ano (com participação de Brill) e 999 evidenciam ainda mais o caráter vigoroso de suas músicas e quase colocam o Circo abaixo. Perto do fim, é a hora de “Te amo Disgraça”, a música mais evidenciada do álbum e que entrega a Catarse ao Circo Voador. O rapper já nasceu grande em sua trajetória e já é um nome para sempre prestar atenção às atividades.

Logo após, Rincon tem a difícil tarefa de pegar um público inflamado pelo artista anterior. O artista começa bem com as músicas também do álbum de estréia, chamado Galanga Livre (2017). Músicas como A Coisa Tá Preta, Galanga Livre e A Noite é Nossa mostram toda a mescla interessante do som de Rincon, que une os versos ríspidos provindos do rap com uma musicalidade tradicional e um pouco distante do rap que executa nos versos, sendo muito mais orgânica do que o de costume.
Toda essa mudança interação musical mostra um som bem diferenciado e como o artista anterior, os versos de Rincon também são carregados de críticas e um olhar de dentro sobre o racismo e representatividade negra. Músicas antigas como Elegância também foram tocadas, mas em Meu Bloco, Ostentação à Pobreza e na última, Ponta de Lança (com várias inserções de funk e com o público subindo no palco) foi que a galera delirou.

Ao término, fica clara a importância dos artistas para o cenário nacional não só musical, mas como social também, aonde a música além de dizer muito, ficam mortais aliados aos versos desses dois novos destaques. Não só uma expressão musical, mas o que os dois fazem no palco reverbera como um brado de poder e resistência. O RJ agradece e fica no aguardo de mais shows desse calibre e importância.

Baco Exu do Blues e Rincon Sapiência, 01 de dezembro de 2017
Circo Voador, Rio de Janeiro