O Barão definitivamente voltou. E é isso, além de uma afirmação global de paz e amor, que VIVA, o novo álbum do grupo, vem para selar. O décimo quarto álbum de estúdio do grupo (contando com a coletânea “Barão Pra Sempre”, aonde são regravados grandes sucessos), além de religar o motor da máquina e rumar para o futuro, se presta a uma homenagem do passado sem necessariamente se terminar nas mesmas fórmulas, como conta Guto Goffi, baterista do Barão Vermelho desde o começo do grupo.

– Foi muito bom botar a roda pra andar de novo, as pessoas envolvidas estarem conectadas com o intuito de criar algo novo para o Barão, mas sempre respeitando o que já foi construído – diz o baterista, que também celebra o momento de vivacidade (com o perdão do trocadilho) do grupo -Nós, que estamos há quatro décadas fazendo isso, queremos mais é estar na fogueira.

Guto também fala sobre o retorno de Maurício Barros, que é tecladista, produtor e compositor, com muita felicidade e entusiasmo, colocando o fato inclusive como sendo de grande importância para a gravação do novo registro e para a continuidade do grupo – Ele sempre foi um ótimo compositor e sempre quis retornar a banda, então ele ter topado voltar ajudou muito a reconstruir o Barão – após dizer que “em 87 ele saiu por alguns problemas internos”.

Um fato importante a ser notar em VIVA é a presença nos vocais de Rodrigo Suricato, que tem a missão nada fácil de substituir os dois vocalistas anteriores do Barão Vermelho, que são ninguém mais, ninguém menos que Cazuza e Frejat. Guto, porém, diz que para ele é indiferente – dali de onde eu toco eu vejo todos eles de bunda, né? Então ser o Cazuza, o Frejat ou o Suricato não tanta diferença.

Além das novidades, o novo álbum também conta com participações de BK e Letrux, novos rostos da música brasileira, que mostram que o grupo anda de olho no que acontece de novo no cenário nacional – são artistas que acompanhamos o crescimento da cena “underground” e que nós curtimos.

Veja abaixo a entrevista completa:

O álbum novo “VIVA” é o primeiro de Rodrigo Suricato como vocalista do Barão Vermelho (o primeiro desde 1986 sem Frejat). Como foi trabalhar com um vocalista diferente depois de tanto tempo?

Pra mim é igual. Lidar com a música e com músicos e algo que fazemos há muitos anos e claro que cada um tem a sua particularidade, mas no final, dali de onde eu toco eu vejo todos eles de bunda, né? Então ser o Cazuza, o Frejat ou o Suricato não tanta diferença. (risos)

O legal do Suricato é que ele tinha uma herança do barão na veia artística dele, pois desde pequeno ele curte o Barão. Os irmãos dele faziam ele ouvir o Barão desde pequeno. Pra gente é uma sorte isso, né? Ter uma relação afetiva com o nosso vocalista e ele é grato por isso, de alguma forma. Então ele está sempre tentando devolver isso de alguma forma, com gentilezas, enobrecendo o fato da gente ter mantido uma banda de rock durante tantos anos, etc.

O álbum também marca o retorno de Maurício Barros, tecladista produtor e cantor como membro oficial da banda. Muito embora, durante o tempo fora (desde 1987), ele continuou produzindo, tocando e compondo com o grupo. Qual foi a real diferença para a banda ter “efetivado” novamente ele?

Exatamente. Quando ele saiu do grupo no fim dos anos 80, ele só voltou em 92 como músico contratado, e desde então ele está com a gente não só tocando, mas também gravando e co-produzindo os álbuns do Barão. Agora é uma volta oficial como integrante do grupo, para propor ideias, etc. Antes, ele trabalhava mais em cima do que a gente decidia.

Na época, eu e Frejat tínhamos uma liderança nesse sentido. E agora, como o Frejat saiu, a primeira pessoa que procurei foi o Maurício. Disse para ele: “Olha, eu quero continuar o grupo e me sentiria mal se não fizesse esse convite. Queria que você estivesse novamente com a gente, também por ser um membro original” e aí ele ficou felizão (risos) e disse também que estava esperando esse convite há um tempo.

Esse é o real motivo, né?

Sim! Em 87 ele saiu por alguns problemas internos, mas o Maurício sempre produziu músicas boas, desde o início do Barão, como Menina Mimada, Baby Suporte…Ele sempre foi um ótimo compositor e sempre quis retornar a banda, então ele ter topado voltar ajudou muito a reconstruir o Barão. A gente tava super parado, né? Depois do álbum de 2004 a gente fez o MTV Ao Vivo e algumas turnês espaçadas.

Então, estávamos nessa pegada de “quando a gente fizer quarenta anos a gente comemora, quando fizemos cinquenta a gente comemora…” e eu falei com o Frejat: “quem me garante que eu vamos estar vivo até lá?” (risos), então foi muito bom botar a roda pra andar de novo, as pessoas envolvidas estarem conectadas com o intuito de criar algo novo para o Barão, mas sempre respeitando o que já foi construído. É realmente um cara que não podia estar de fora desse campeonato mundial do rock (risos).

Músicas “Tudo por Nós 2” e “Vai ser Melhor assim”, tem uma pegada enérgica, que são a cara do Barão Vermelho, mas também dá para sentir algumas influências de folk music, como em músicas como “Eu Nunca Estou Só” e “Pra Não te Perder”, algo que o Rodrigo traz desde a Suricato. Houve alguma influência artística do Suricato no processo de letras ou músicas?

Esse lance do Folk é bem acentuado no Suricato, mas o Barão tem isso também. Músicas como “Tua Canção” trazem essa ideia do folk americano. O Barão traz um pouco disso pelo tempo de carreira, né? É uma carreira longeva, então tivemos que flertar com muitos estilos que o rock pode se misturar. Mas realmente é uma característica bem marcante no Suricato mesmo. Esse lance da música “Nunca Estou Só” também traz muito do Blues, algo que ele sabe bastante também. Hoje em dia tem muitos guitarristas que são do Pop Rock, mas antigamente a galera era do Blues, do Rock e do Country (risos).

O Barão tem essa raiz, né? O que diferenciou o Barão todo esse tempo foi o forte contato com a música negra. Embora o Folk, o Country, que são coisas que temos no Barão, tenham uma origem branca, o Barão já tinha assimilado o funk, o blues americano.

Muitas músicas nossas tem metais, que remetem ao RnB americano. Sempre gostamos muito de Blues, né? A gente tinha uma banda chamada “Midnight Blues Band” na década de 90. O Barão sempre teve essa linguagem e o Suricato também carrega isso. Então, pra gente ter um cara que tenha essa identificação musical, e com quinze anos a menos, faz esse frescor todo no nosso som, essa renovação.

E isso faz de vocês poderem juntar influências de duas gerações.

O Barão tem uma qualidade musical hoje no palco impressionante. As músicas são legais, as pessoas tem uma empatia muito legal pelo repetório, mas aí hoje, você vê a gente tocando e pensa “po, esses caras tocam bem, hein? Hoje, tem umas bandas meio bunda mole no rock, mas não é o caso do Barão! (risos)

O Barão, no passado, buscou algumas pessoas para escrever as letras, porém no VIVA, as letras foram escritas pelos músicos. Porque foi feita essa escolha?

Pois é, a única coisa que não é nossa é a parte do BK, que a gente deixou em aberto para ele fazer. As letras são Suricato, Mauricio e Eu, solos ou parcerias. Pra mim, é perceptível a identificação do que cada um quer dizer, a forma como se escreve, o que interessa a cada escritor, etc. É um disco meio dividido no recado, embora os recados se combinem e se completem. Eu aprendi a fazer letra sozinho. Depois que o Cazuza saiu do Barão, eu aprendi a fazer letra sozinho, e gosto de fazer letra sozinho. Mas isso não quer dizer que uma música feita por mais de uma pessoa não possa ficar boa. Na música não existe regra.

E isso foi proposital?

Esse retorno aos letristas de dentro da banda foi proposital. A gente queria dar qualidade e credibilidade. A gente retornou com o Barão para produzir em larga escala e não para fazer turnê caça níquel. Existe a possibilidade desse ser o último álbum do Barão em formato físico, mas a gente quis lançar esse em físico também com propósito, para que os fãs do Barão pudessem incluir o Suricato na coleção deles e que pudessem considerar o cara como membro atual do grupo.

A partir de agora, são só músicas para plataformas digitais. Muito provavelmente, a partir do ano que vem, a gente já comece a fazer coisas novas e já colocar toda hora uma música nova nessas plataformas. Temos quatro compositores na banda, eu terminei de fazer meu terceiro álbum solo, Maurício tá com o disco dele pronto, Suricato lançou coisa nova agora também. O que tiver agora da gente vai pro Barão. A gente quer que o público sinta que estamos afim de ser Barão Vermelho de novo, intenso e na estrada. E quando alguém quiser ouvir as músicas do Barão, chamar o Barão Vermelho, de fato, para tocar elas. Músicas como “Bete Balança”, “Puro Êxtase”, “Por Você”, foram lançadas pelo Barão e quem tem que tocar elas é o Barão, é a nossa história.

O Rapper BK canta na faixa “Eu Nunca Estou Só” e Letrux canta em “Pra não te perder”. Como foi gravar com a nova cara da música brasileira e porque a mistura do som do Barão Vermelho com artistas que fazem um som diferente do que vocês fazem?

Além desses duetos gerarem muita curiosidade do público para ouvir os sons, também são artistas que acompanhamos o crescimento da cena “underground” e que nós curtimos. A Letícia (Letrux) por exemplo, a gente se esbarrou no Porão do Rock, aí ela pintou no camarim e falou “eu toco uma versão de meus bons amigos no piano e voz”. Quer dizer, são coisas assim que vão nos aproximando. A gente adorou a participação dela no álbum. O BK também, trouxe o hip hop dele super urgente, com uma letra que representa o bairro, mas também o mundo. Representa o futuro, o presente e o passado. E é isso que a gente quer fazer mesmo. Representar o bairro, representar a rua e representar o mundo.

Nós não vamos abaixar nossa cabeça pras coisas que estão acontecendo hoje no país e nada melhor para isso do que uma música de rebeldia como o hip hop. Nós, que estamos há quatro décadas fazendo isso, queremos mais é estar na fogueira, não estamos a fim de sombra, ficar ouvindo esses absurdos que os dirigentes que comandam o planeta falam e não fazer nada. Estamos no front também e estamos querendo batalhar, dar o melhor para o público.