Era uma sexta especial, e Abebe Bikila, mais conhecido como BK’, fez a primeira apresentação do aclamado álbum “Gigantes”, lançado no fim de 2018. Álbum esse que mostra uma evolução musical incrível comparado ao seu antecessor, “Castelos & Ruínas”, de 2016. Os ingressos se esgotaram, tangibilizando assim todo o respeito e admiração do registro, fazendo um verdadeiro “caldeirão” no Rio de Janeiro, seja pela atmosfera, seja pelo calor, que no RJ nessa época é algo estarrecedor.

Depois de uma abertura pesada da festa Puff Puff Bass, que preza pelo bass music em geral, BK’ sobe ao palco, e em grande estilo: em um show especial com banda e telões com ótimas projeções, o rapper abre com “Novo Poder” e “Porcentos”, fazendo o Circo Voador tremer e as rodas se abrirem. Mesmo com banda e tocando as músicas de uma forma mais orgânica, o grave característico das suas batidas foi preservado e a mistura das picapes com as cordas só fez bem ao som do carioca.

Carioca esse que mostrava visivelmente estar emocionado e animado em estar ali na Lapa, lugar retratado diversas vezes em suas músicas. Estar fazendo um show de estreia, em uma casa história, com ingressos esgotados, e visivelmente cantando as dores e dissabores da sua própria vida é algo que emocionaria qualquer um que tem a arte como estado de espírito, e com Abebe não foi diferente. Pelo contrário, só trouxe mais verdade e emoção em uma noite que já era especial por si só.

Além de BK’ e banda, as participações na apresentação também eram muitas. Das muitas, se destacaram a de Baco Exu do Blues nas suas linhas de “Vivos” (que também tem participação de Luccas Carlos, que infelizmente não pode estar presente), Drik Barbosa e Akira Presidente em “Correria (Remix)”, que mostram linhas interessantes e precisas (Drik inclusive vem fazendo ótimas participações, como também em “Mandume”, de Emicida), e também de Marcelo D2 e seu filho Sain em “Falam”, além de Juyé, que acompanha BK’ durante toda a apresentação como backing vocal e brilha na ótima “Gigantes”.

Na parte final, BK’ volta as suas origens e parte para uma seção sem banda, apenas com músicas antigas dos coletivos Pirâmide Perdida e Nectar Gang, junto com todos os componentes de cada um deles. Nessa parte do show, a roda se abre para valer e a apresentação muda de direção, apresentando um posicionamento mais elétrico e vigoroso. Petardos como “Grana Grana” e “Pia, Brota”, que encerra a apresentação, retiram o fôlego que restava do público.

Em seu show de estreia de um novo direcionamento musical, BK’ nos mostra como evolui não só como músico, mas também como pessoa, no passo em que suas letras estão mais maduras e concisas. Com um caminhão de participações especiais do mais alto escalão e várias facetas musicais de ótimo gosto, o rapper finca seu nome no rol de novos artistas a serem notados no cenário brasileiro.