Uma curiosa troca de guarda se verificou na noite de quinta-feira, no Memorial da América Latina durante o Popload Festival: logo após o show da banda americana Blondie, liderada pela cantora americana Debbie Harry, de 73 anos, os espaços próximos ao palco aos poucos deixaram de ser ocupados pelo público adulto e foram invadidos por adolescentes sedentos pelo espetáculo musical e visual da estrela neozelandesa Lorde, de 22.
Estrela pop de primeira grandeza, com apenas dois álbuns no currículo (“Pure heroin”, de 2013, e “Melodrama”, de 2017), Lorde cuidou de entreter um vasto público (que ao longo do dia de festival totalizou 13.700 pessoas) com uma performance segura, calcada em sua magnética e vistosa presença de palco (ela chegou com vestido e tênis vermelhos e algumas transparências) e um bocado de r&b percussivo (que ela dançou como se estivesse só em seu quarto) e dramáticas baladas de piano, que por vezes lembraram a da inglesa Kate Bush. Com hits como “Homemade dynamite” e “Writer in the dark”, Lorde teve a plateia em suas mãos por todo o tempo, mostrando que é, definitivamente, o tipo de astro talhado para as exigências e anseios da sua geração.
Já com Debbie Harry e o Blondie, tratava-se de um acerto de contas com um grande nome da new wave e do rock, que em mais de 40 anos de carreira nunca havia se apresentado no Brasil. Foi uma aula de estilo ministrada pela cantora, ao lado de uma banda que ainda tinha, de integrantes originais, um animado Clem Burke, baterista (o guitarrista-fundador, Chris Stein, não pôde vir e foi homenageado pela banda com a canção “Heart of glass”). Mesmo cantando em tons mais baixos do que os das gravações, Debbie Harry manteve a jovialidade e a sensualidade em hits como “One way or another”, “Call me”, “Rapture”, “Maria”, “Atomic”, “The tide is high” e “Dreaming”, que encerrou de forma muito emotiva a apresentação.
Mas nem só de Lorde e Blondie foi feito o Popload. Uma boa preparação para o show da banda foi feita pelo MGMT, grupo americano dos anos 2000 que recentemente voltou com um bom disco, “Little dark age”. Na apresentação, repleta de delírios visuais no telão, eles equilibraram bem suas psicodelias sessentistas de guitarra e saudosismos eletrônicos dançantes dos anos 1980. O hit “Time to pretend” animou o público mesmo debaixo de chuva fina, seguida da progressiva “Alien days”. Musicas no novo disco, como a faixa-título e “Me & Michael” deixaram os espíritos acesos para os grandes sucessos de pista do MGMT, “Kids” e “Electric feel”, que terminaram o curto mas empolgante show.
Antes deles, porém, foi a vez de outra banda americana fazer sua estreia no Brasil: o Death Cab For Cutie. Ícone do rock indie, ele quase não se apresentou no Popload: acidentado, o vocalista e guitarrista Ben Gibbard teve que fazer o show com dores, sentado em uma cadeira. A coisa começou meio morna, com músicas do mais recente disco da banda, “Thank you for today”, mas esquentou quando ela sacou de sucessos como “Crooked teeth”, “Cath”, “Soul meets body” e “Follow you into the dark”, cantada em uníssono pela plateia.
A escalação internacional do festival começou a dar as caras por volta das 15h com o grupo americano At The Drive-In, que também estreava em palcos brasileiros. Veterano do pós-hardcore, ele causou sensação pela perfomance alucinada do vocalista Cedric Bixler-Zavala, que além de berrar e pular para todo canto, ainda jogou o microfone no chão na primeira música e ainda passou o resto do show batendo com a base do pedestal no chão. Mas, além de bom cantor, ele contou com o auxílio de músicos precisos, vigorosos e inventivos como o guitarrista Omar Rodriguez-Lopes e o baterista Tony Hajjar. O grande momento do show do At The Drive-In foi mesmo o final, quando tocaram as musicas “Pattern against user” e “One armed scissor”, de seu disco mais clássico, “Relationship of command”, de 2000.
Antes do At The Drive-In, o público curtiu os brasileiros: o duo acústico de Mallu Magalhães e Tim Bernardes, do Terno (que cantaram sob forte chuva) e o carioca Letrux, da cantora Leticia Novaes. Nos intervalos entre os shows internacionais, o palco secundário Heineken Jukebox promoveu breves encontros do Terno e Liniker e de Céu e Tropkillaz.
Texto de Silvio Essinger // Fotos de Rodrigo Gianesi
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