Você provavelmente ouviu alguma música do duo americano Chainsmokers. “Closer”, “All we know”, a mais recente “Paris”, todas andaram circulando por rádios, TVs, boates e playlists diversas e chegaram aos Top 10 sem que muitos dos ouvintes se dessem muita conta – poderia ser Sia, poderia ser Justin Bieber, poderia ser qualquer coisa. Um fenômeno típico dos novos tempos da música pop, em que a busca pelo hit envolve coletivos de compositores e produtores, análise pesada de tendências e uma ojeriza aos artistas com alguma personalidade, os DJs Andrew Taggart e Alex Phall deixam os singles e EPs de lado para investir no formato álbum, aquele que dá respeitabilidade aos artistas. Mas nada em “Memories… do not open” indica que os dois possam ir além daquilo que já deram inúmeras mostras de ser.

Marmanjos festeiros que em 2013 chamaram a atenção da gravadora Dim Mak, do DJ Steve Aoki, com a descompromissada faixa “#Selfie”, os Chainsmokers se valeram do sucesso acidental para surfar na onda americana da electronic dance music (EDM) e tentar chegar a um público maior que o das pistas de dança e dos grandes festivais (onde executam com êxito o papel de animadores, vide o recente Lollapalooza em São Paulo).

Com Andrew transformado em (deficiente) vocalista, a dupla investiu então num tipo de música pop que o jornalista Matt Miller, de revista “Esquire” celebremente comparou ao rock do grupo canadense Nickelback. “Ambos se tornaram imensamente populares ao usar os piores clichês que o gênero tem a oferecer”, escreveu. Eliminando de seu som boa parte dos elementos da música negra, os Chainsmokers miram, em seu álbum, numa demografia específica: a juventude branca, como se fossem uma espécie de Ed Sheeran com um vocabulário de limites bem mais estreitos.

As letras de “Memories” parecem ter sido tiradas dos cadernos adolescentes de um americano médio. As dificuldades de manter uma relação amorosa nesses tempos líquidos monopolizam a lírica do disco, com desvios misóginos (“Break up every night”) e alertas sobre o lado ruim da fama (em “Bloodstream” e “Honest”).

Cantora convidada, Emily Warren soa como um genérico de Lorde e Halsey em “Don’t say”, “My type” e “Paris”, faixa que tem a melodia mais memorável do disco. Líder do Coldplay, Chris Martin dá um upgrade na poética em “Something just like this”, uma das melhores faixas de “Memories”, mas tão pouco imaginativa que dificilmente caberia num dos cada vez mais decepcionantes discos da banda inglesa.

* por Agência O Globo