SÃO PAULO – 54 horas de música para 150 mil pessoas, que em 2 dias curtiram mais de 50 atrações. Essa foi a edição 2014 do Lollapalooza, que aconteceu nos dias 5 e 6 de abril no Autódromo de Interlagos, nova casa do festival no lugar do Jockey Clube, que foi palco das edições anteriores e já não comportava a grandiosidade do evento.

O Lollapalooza funcionou muito bem dentro do conceito de festival de música como experiência que vai além de aproveitar os shows. Roda gigante, loja de discos, pista de patinação e espaço gourmet foram alguns dos destaques entre um show e outro. Mas, quem foi interessado em música, precisou usar um pouco de logística para aproveitar ao máximo as atrações, devido a distância considerável entre os palcos, fazendo com que os intervalos entre shows fossem verdadeiras peregrinações. Por outro lado, os shows simultâneos não interferiam uns nos outros, como ocorria no Jockey, o que era motivo de queixa e uma das razões da mudança do local do evento.

A distância entre palcos somada à topografia do local, com subidas e descidas, exigia muita disposição para não perder muito do show seguinte. Tanto que muita gente acabou optando por acompanhar as atrações de um único palco, para evitar a fadiga, assim como ter que optar por perder o final de um show para ver o seguinte na íntegra ou vice-versa.

No quesito música, o line up da edição 2014, diferentemente das anteriores, não contava com um headliner de peso como destaque, como o foram Foo Fighters em 2012 e Pearl Jam em 2013. Acertou em cheio na diversidade de atrações, indo do pop às sonoridades mais roqueiras, passando ainda pelo eletrônico. Artistas hypados como Lorde e Imagine Dragons, bandas de arena como Muse e (agora com esse status) Arcade Fire, os indies Phoenix e Vampire Weekend, além dos veteranos de som mais pesado Soundgarden e Nine Inch Nails embalaram o público nesses 2 dias de evento.

O primeiro dia de festival (5), pode ser encarado como o que colocou o evento à prova. Com ingressos esgotados, evidenciou alguns problemas, como o da capacidade de público, que deve ser considerado para se oferecer o mínimo de conforto aos pagantes. A dificuldade de transitar devido ao fluxo de pessoas entre um show e outro foi uma das maiores críticas ao evento, o que leva a considerar a redução da capacidade para a edição 2015 (já confirmada).

Apesar disso, o que ficou na memória de quem foi nesse dia foi o show enérgico do Imagine Dragons e do culto à Lorde, dona do megahit de 2013, “Royals”. Destaque ainda para o Phoenix e o já tradicional stage diving do vocalista Thomas Mars, e para um Nine Inch Nails sem concessões por estar em um grande festival – “Closer” fez falta. Por fim, o Muse, atração mais aguardada do dia, apesar de não estar 100% devido a problemas de saúde do vocalista Matt Bellamy, promoveu um dos momentos mais marcantes do festival, com um cover de “Lithium” em homenagem a Kurt Cobain, do Nirvana, em uma referência aos 20 anos de sua morte.

Já no segundo dia de Lolla, no domingo (6), podia se observar algumas diferenças em relação ao anterior, a começar pelo público reduzido, o que foi bem recebido por quem esteve em Interlagos no primeiro dia. Além disso, o público já não era tão “teen” quanto o de sábado, e estava ávido por nomes como Soundgarden, New Order e Pixies. O dia começou bem com Johnny Marr, guitarrista do The Smiths, que fez o público se emocionar e pular debaixo de um sol de 2 horas da tarde, ao som de “Bigmouth strikes again”, “How soon is now?” e “There is a light that never goes out”. Ainda havia espaço para o pop, representado nesse dia pela cantora Ellie Goulding, que colocou quem estava por perto para dançar. Cumpriu o que prometia com os hits “Burn” e “I need your love”, além de ter sido pura simpatia, fazendo média com direito a camisa da seleção brasileira.

Para os indies modernosos de plantão, o Vampire Weekend veio com a missão de apresentar o álbum “Modern Vampires of the City”, considerado um dos melhores discos de 2013 e marco da fase mais madura da banda, que até arriscou momentos mais sisudos no show. Mesmo assim, não faltaram músicas mais festeiras, como “A-Punk” e “Walcot”, para alegria do público, que já próximo do final, começou a deixar o local para conferir o Pixies, em outro palco. Black Francis e companhia, sem Kim Deal, iniciaram a maratona de um setlist com 22 músicas, em uma apresentação enérgica, sem firulas e sem fazer média com o público. Se era Pixies o que queriam, certamente tiveram, com destaque para os hits “Monkey Gone To Heaven”, “Where Is My Mind”, “Here Comes Your Man” e “Hey”.

Já o Soundgarden não poderia ter feito estreia melhor em palcos brasileiros, um belo mea-culpa, após fazer os fãs esperarem tanto tempo. Apesar de estar trabalhando no álbum “King Animal”, a banda presenteou o público com hits como “Outshined” e “Jesus Christ Pose”. Mas o destaque é mesmo para as músicas do disco “Superunknown”, que completa 20 anos de lançamento ainda fazendo a cabeça de muita gente, com “The Day I Tried To Live“, “My Wave”, Spoonman“ e claro, “Black Hole Sun“. Não há dúvidas que os caras voltam em breve.

Fechando a noite e o festival, o Arcade Fire retorna ao Brasil com status de banda grande, diferente de 2005 quando se apresentou no Tim Festival. Sempre com discos aclamados pela crítica e por um público mais segmentado, agora a banda conhece a benção e adoração de plateias maiores. Mas o fato de ampliar o público, não tirou a essência do grupo, que continua a se permitir experimentar, fazer discos conceituais e levar essas ideias ao mainstream. O show contou com músicas das antigas como “Neighborhood #3 (Power Out)”, “Rebellion (Lies)” e “No Cars Go”, além das músicas dos álbuns mais recentes cantadas na ponta da língua pelo público, culminando no final apoteótico de “Wake Up”. Depois disso, hora de voltar para casa com a alma lavada.

Foram 2 dias que certamente ficarão na memória de quem viu a banda favorita, ou foi ao primeiro festival da vida. Apesar de alguns problemas, fica a experiência para realização do próximo. Música é o importante, mas estrutura, acesso, logística de transportes e capacidade de público também o são, especialmente quando consideramos o preço dos ingressos. Agora é ficar na expectativa do próximo line up e começar tudo de novo. Até 2015!

Lollapalooza Brasil
05 e 06 de abril de 2014
Autódromo de Interlagos, São Paulo