Em mais uma passagem dos americanos bostonianos do Dream Theater pelo Brasil (Dessa vez até com seu próprio festival, o DreamFestival, em São Paulo) o Rio de Janeiro não poderia ficar de fora. E que bom que não ficou, pois o motivo era especial: além de divulgar o mais recente álbum, Distance Over Time, do começo desse ano, o grupo apresentou na íntegra o clássico álbum “Metropolis 2: Scenes From a Memory”, que completou vinte anos no mesmo vigente.
Porém, antes do momento clímax da festa, o Dream Theater tinha muita coisa pra mostrar. Pontualmente às 21h30, LaBrie, Rudess, Petrucci, Myung e Mangini subiram ao palco de um Vivo Rio cheio até a tampa. No primeiro ato do show, muitas músicas do álbum mais recente (com destaque para “Pale Blue Dot” e suas seções totalmente esquizofrênicas no meio da música) e apenas duas músicas não pertencentes ao mesmo: a incrível “A Nightmare to Remember” e “In the Presence of the Enemies, Pt.I”.
Luzes se acendem e toda a preparação para a execução do aniversariante do ano começa. Assim como o teatro, que pausa em determinado momento da apresentação para diferentes atos, também assim foi o show do Dream Theater. Também pudera, apenas a primeira parte do show, que contou com apenas cinco músicas, teve pouco mais de uma hora.
O álbum homenageado da noite é o quinto da carreira do grupo, lançado em 1999. É um álbum conceitual que teve toda a sua história (que envolve assassinato e regressões em vidas passadas) contada nos telões atrás da banda. Inclusive, a parte cenográfica ajuda e muito para a apresentação, sempre com animações e projeções pertinentes. Na execução do “Scenes”, acompanhava religiosamente o que estava sendo dito na música.
Falar que a qualidade dos músicos é anormal é chover no molhado. LaBrie, que no primeiro ato tinha um pedestal com uma mão robótica e uma caveira, fazendo referência à capa do mais recente álbum, na execução do álbum de 1999, mudou para um pedestral com alusão ao símbolo do infinito, que permeia o conceito do registro. Para um senhor de 56 anos, segurou muito bem no gogó músicas complicadas como “Beyond this Life” e em “The Spirit Carries On”, com solo inspirado de Petrucci, capaz de tirar lágrima dos maiores marmanjos do recinto.
Em “Dance of Eternity”, toda a capacidade musical do Dream Theater se projeta. Um instrumental de seis minutos parece ficar pequeno para tanta capacidade e precisão dos músicos. Ninguém fica de fora, da bateria megalomaníaca de Mangini até o baixo do recatado Myung, todos os instrumentos têm seu momento para brilhar solo e separadamente, sem que se perca o contexto do que é, de fato, uma música. “Finally Free” encerra de forma brilhante o álbum e a segunda parte do show, que é a história de uma banda sendo contada em forma de música, entre notas e acordes, com muita gente “sentada” pra ouvir. Histórico e necessário.
A música final “At Wit’s End” se encontra ali apenas para formalizações, pois o público já estava estupefato com o que acabara de acontecer. Se, em suas passagens pelo Brasil, o Dream Theater se apropria de altos e baixos, dessa vez acertaram em cheio.
Não há comentários enviados