São seis anos de Levada e cinco de A.Nota – nesse tempo, mais de 150 artistas passaram pelos palcos dos dois festivais que mapeiam a música brasileira dos anos 2000. Os números seguem crescendo. Realizada às quartas e quintas, a edição 2017 do Levada entra na terceira semana no Centro da Música Carioca, com shows da paraense Juliana Sininbú (nas duas anteriores passaram por lá Domenico Lancellotti e Curumin). Já o A.Nota começa no dia 25 no Teatro Ipanema, com o encontro de Marcelo Jeneci e Lucas Vasconcellos, e segue até fevereiro de 2018, sempre às terças. Apesar da aparência de solidez no calendário carioca, porém, a primeira observação que surge numa conversa com os organizadores é que nunca há garantias de que a próxima edição vá acontecer.

– Todo ano há uma expectativa de sermos aprovados nos editais – diz Julio Zucca, idealizador e produtor do Levada, que tem patrocínio da Prefeitura, da Secretaria Municipal de Cultura e da Oi, mesma empresa que patrocina o A.Nota. – Não temos um patrocínio de continuidade, como alguns podem pensar. Cada vez é um projeto, matamos um leão por ano.

Neste ano, ambos tiveram que se deparar com uma incerteza nova. Palco tradicional de ambos os festivais, o Oi Futuro Ipanema está fechado para obras desde abril, sem previsão de reabertura. O patrocínio seguiu, mas novos espaços tiveram que ser pensados. O Levada – que a cada ano faz um mapeamento da produção contemporânea brasileira, com artistas de diversos estados, sempre lançando um trabalho novo – se dividiu entre Zona Norte (o Centro da Música Carioca, na Tijuca) e Zona Sul (na Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema, que o projeto ocupa a partir de 9 de agosto até 7 de setembro). O A.Nota foi para o Teatro Ipanema – trazendo, com a mudança de casa, uma mudança de conceito.

– Em 2013 e 2014, nossa lógica era de chamar artistas que se destacavam na web. Em 2015 e 2016, investimos nos lançamentos – explica Thiago Vedova, curador, idealizador e produtor do festival. – Agora, os shows são baseados em encontros. Pode ser desde projetos que já existem, como o Iara Ira (que une Duda Brack, Júlia Vargas e Juliana Linhares) ou o Sambas do Absurdo (de Rodrigo Campos, Juçara Marçal e Gui Amabis), até encontros inéditos. Nos preocupamos também com uma abertura de gêneros e estilos. Teremos desde o peso de Vulgue Tostói com Ventre até um dia com Antonio Guerra, Guinga e Silvério Pontes.

Jorge LZ, curador do Levada, chama a atenção para a importância dos festivais no escoamento de uma produção que, aponta ele, “não para por causa da crise”.

– Essa lista de artistas que passaram pelo Levada e pelo A.Nota são uma resposta a quem diz que não se produz mais nada de novo na música brasileira. E isso independe da crise – aponta LZ. – O Rio está num momento péssimo. O movimento de casas de show abrirem e fecharem é cíclico, mas aqui esse ciclo é muito rápido. Talvez a solução não seja abrir casas como o Studio RJ (uma das que abriram e fecharam na cidade nos últimos anos), mas sim ter vários espaços menores, como o Donninha começa a aparecer na Tijuca, ou como o Puxadinho da Praça já faz há um tempo em São Paulo.

Vedova chama a atenção para o enfraquecimento da atuação do poder público (“Crivella reduziu a verba dos teatros da rede municipal, o edital do fomento de 2016 não foi pago”) e a redução também no setor privado (“Houve uma época em que surgiram iniciativas de marcas, empresas, se movendo na direção dessa música independente”).

– A expectativa é que estejamos no fundo do poço, para que se possa subir. Entre outros problemas, a Prefeitura transformou a obtenção de autorização para um evento na rua numa maratona cruel. E, mesmo assim, essa autorização pode ser revogada – diz o curador do A.Nota.

Mas, segundo LZ, os artistas seguem fazendo arte – e renovando a cena.

– O Levada tem desde Domenico, uma influência pra muitos artistas que vieram depois, até Bruna Mendez, de Goiás, uma das nossas apostas deste ano – conta o curador do Levada. – Essa conversa é a cara da música de hoje, que não tem recortes geracionais nem de gênero. Nos 50 anos de Tropicália, chegamos ao que os tropicalistas buscaram, esse encontro de Vicente Celestino com Lennon & McCartney.

O que vem por aí

Levada
Quarta e quinta: A paraense Juliana Sinimbú lança o seu segundo álbum, “Sobre amor e outras viagens”
Dias 26 e 27: Letícia Novaes, ex-Letuce, apresenta seu primeiro solo, “Letrux”
2 e 3 de agosto: Felipe S, do Mombojó e do Del Rey, mostra sua estreia solo, “Cabeça de Felipe”
9 e 10 de agosto: A paulistana Luísa Maita traz o show do álbum “Fio da memória”
16 e 17 de agosto: O paranaense Bruno Morais lança seu novo disco, ainda sem título
23 e 24 de agosto: A goiana Bruna Mendez canta as músicas do álbum “O mesmo mar que nega a terra cede à sua calma”
30 e 31 de agosto: Capixaba radicada no Uruguai, Tamy faz o lançamento do disco “Parador Neptunia”
6 e 7 de setembro: O pernambucano Barro volta ao Rio com o show “Miocárdio”
A.Nota
Dia 25: Marcelo Jeneci faz dobradinha com o guitarrista Lucas Vasconcellos
1° de agosto: Duda Brack, Júlia Vargas e Juliana Linhares se reúnem para show com o projeto Iara Ira
8 de agosto:Barbara Eugenia encontra Tatá Aeroplano
15 de agosto: Rodrigo Campos, Juçara Marçal e Gui Amabis apresentam o Sambas do Absurdo
22 de agosto:Marcos Suzano e Marcelo Vig juntam percussões
5 de setembro: Pai e filho, Manoel e Felipe Cordeiro mostram o seu Mundo Cordeiro

Texto de: Leonardo Lichote