Um búlgaro criador de playlists no Spotify pode ter ganhado cerca de US$ 1 milhão com um esquema que manipulava os pagamentos de royalties da plataforma de streaming. Segundo o site “Music Business World Wide”, o usuário teria feito uma engenhosa fraude ao criar listas de reprodução falsas e movimentar diversas contas no aplicativo.

Além da engenhosidade, outro fato chama atenção no golpe: o autor das playlists provavelmente não infringiu nenhuma lei. Segundo a publicação, executivos do Spotify desconfiaram do esquema pela primeira vez em setembro do ano passado. No entanto já era tarde demais.

Na ocasião, duas playlists disponíveis no serviço, “Soulful music” e “Music from the heart”, chamaram a atenção do serviço. Ambas criadas por um usuário cadastrado na Bulgária figuravam semana após semana na lista interna criada pela empresa das mais ouvidas nos Estados Unidos e no Mundo.

No dia 23 de setembro, por exemplo, “Music from the heart’ estava em 84ª no ranking global e em 22º EUA. Já “Soulful music” figurava na posição 35 da lista mundial e num incrível 11º lugar dos EUA.

A playlist “Soulful music” continha 467 faixas, todas gravadas por artistas desconhecidos com muito poucas informações disponíveis sobre suas biografias.

Além da estranheza de uma lista de desconhecidos estar entre as principais do mundo, outro fator chamou a atenção dos executivos. De acordo com a reportagem da “Music Business World Wide”, apenas 1.797 pessoas seguiam a lista de reprodução.

Além disso, a grande maiora das músicas tinha duração de pouco mais de 30 segundos — tempo mínimo que o Spotiy considera para monetizar uma faixa.

A situação começou a se esclarecer quando foi descoberto que cerca de 1.200 dos seguidores da “Soulful music” ouviam ininterruptamente, 24 horas por dia, as “músicas” da lista. Dificilmente alguém ouviria música por tanto tempo, ainda mais canções que nem existem.

Todos os 1.200 seguidores da lista tinham contas premium. A partir desse dado, os executivos começaram a entender como funcionava o suposto esquema do búlgaro.

A trabalhosa empreitada teria começado com a criação das 1.200 contas, com e-mails e perfis próprios em cada um. Além de dispendiosa, uma tarefa cara. Com um custo de US$ 9,99 ao mês, o golpista teria que investir US$ 12 mil mensais.

Porém, o trabalho faria se pagar bem. Apesar dos poucos seguidores, o tempo curto das faixas e a repetição 24 horas por dia da playlist passaram a garantir um total de 72 milhões de execuções por mês, segundo cálculos da reportagem.

Considerando a estimativa de US$ 0,004 de royalities pagos pelo Spotify por reprodução, o montante chegaria a mais de US$ 1 milhão. A conta do “Music Business World Wide” soma as duas playlists registradas pelo usuário no espaço de tempo de 3 meses de ação.

As playlists já foram apagadas. Procurado, o Spotify falou que não comentaria o caso e liberou um comunicado:

“Nós levamos extremamente a sério a manipulação artificial da atividade de streaming em nosso serviço. O Spotify possui várias medidas para monitorar o consumo no serviço com o intuito de detectar, investigar e lidar com esse tipo de atividade. Continuamos a investir pesadamente no aprimoramento desses processos e na melhoria dos métodos de detecção e remoção e na redução do impacto dessa atividade inaceitável a artistas, detentores de direitos e nossos usuários”.