O cinza frio, predominando na paleta de cores do Rio, talvez não seja o cenário dos sonhos para uma sexta tipicamente carioca. Mas a tal super frente fria mostrou a que veio, e até ajudou a criar a atmosfera perfeita para as músicas do City and Colour, que acalentaram o público ávido pelas melodias ternas, por vezes melancólicas, sobre as inquietações mais íntimas de cada um. Ou melhor, do íntimo de Dallas Green, coração e mente por trás do projeto que leva desde 2004.
A segunda passagem do City and Colour pela cidade, dessa vez na lona do Circo Voador, marcou ainda o debut nos palcos brazucas das músicas do álbum “If I should go before you”, lançado ano passado e norte do show, que não mostrou surpresas em relação às apresentações anteriores da turnê sul-americana. Assim, a força apaixonada de “Woman” iniciou os trabalhos, como no disco, abrindo passagem para Dallas Green mostrar que não tem medo de arriscar ao apresentar novidades em sequência no setlist.
O público por sua vez, provou a intimidade com o disco novo mostrando que sabia cada palavra de músicas como “If I should go before you”; “Wasted Love”, essa com uma gostosa pegada pop, convidando a cantar junto mesmo, o que levantou o pessoal; ou ainda em “Lover come back”, que mereceu até elogio do lacônico Green, com direito a um “beautiful” pela participação dos presentes na cantoria.
Ao vivo, as composições de Green transitam pela leveza e simplicidade do acústico para chegar ao ápice ganhando força em improvisações potentes, como no solo final de “As much as I ever could”. Mesmo com toda a pegada elétrica, e os elementos de blues e country rock encorpando as melodias, esses mesmos elementos criam uma atmosfera aconchegante e intimista, amenizando a melancolia de canções como “Waiting…”, “Hello, I’m in Delaware” e “Sleeping sickness”, algumas que renderam grandes momentos de sinergia com a plateia. Muito melhor do que ouvir no player de música!
Tanta devoção poderia ser recompensada com alguns hits queridos dos fãs, seguindo a lógica dos shows (ou o que acreditamos ser essa lógica). A honestidade de Green, tão apreciada nas canções, não foi muito bem compreendida quando o músico retornou para o bis, onde apresentaria algumas músicas apenas com voz e violão, parte habitual em seus shows. Antes de mandar “Day old hate”, Green pediu a uma fã para abaixar um cartaz, escrito “Little hell”, argumentando que atrapalharia outras pessoas a assistirem a apresentação.
Em seguida, o músico aproveitou para se justificar, expondo a razão de não tocar mais certas músicas, por não se sentir confortável cantando sobre determinadas situações abordadas nas letras. Ainda disse que entendia o fato de alguns ficarem chateados, mas por outro lado, havia os que estavam curtindo. Quem não curtiu, foram aqueles que gostariam de ouvir “Little hell”, pedida ao longo de todo o show, mas que não rolou. Se servir de consolo, o pedido não foi atendido ano passado também (saiba como foi aqui).
Climão superado, o setlist seguiu com primor. “Body in a box” adornada pela gaita e pelas vozes empolgadas a plenos pulmões rendeu um dos momentos mais bonitos, assim como em “The girl”. No fim das contas, “Little hell” nem fez tanta falta assim, certo? O pessoal estava tão envolvido que nem se deu conta do fim do show, quando Green agradeceu e saiu junto com a banda, o que foi considerado indelicado por muita gente, que esperava uma interação mais calorosa ao menos na despedida.
Dallas Green pode não ser o cara mais carismático, nem dizer 150 vezes o quanto está amando o público ou o fato de estar se apresentando para o mesmo. Mas certamente, vale um show que expõe a alma do artista, e quando este é tão honesto ao lidar com sua obra.
Setlist
Woman
Northern Blues
Two Coins
If I Should Go Before You
Killing Time
Hello, I’m in Delaware
Wasted Love
Lover Come Back
Waiting…
We Found Each Other in the Dark
Sleeping Sickness
The Grand Optimist
As Much as I Ever Could
Bis
Day Old Hate
Body In A Box
The Girl
Hope For Now
Não há comentários enviados