Morreu, nesta segunda-feira (13), aos 72 anos, o cantor e compositor baiano Moraes Moreira. Ele sofreu um infarto fulminante e foi encontrado pela empregada, às 6 da manhã, caído em casa, no Rio de Janeiro. Um dos maiores artistas da música popular brasileira, Moraes ficou célebre por sucessos como “Lá vem o Brasil descendo a ladeira”, “Pombo correio”, “Sintonia” e, com o grupo Novos Baianos, “Preta pretinha”, “Mistério do Planeta” e “Acabou chorare” (essas, compostas em parceria com o poeta e integrante do grupo Luiz Galvão).

Antonio Carlos Moreira Pires nasceu em 1947, em Ituaçu (BA), e passou sua adolescência tocando sanfona em festas de São João, enquanto intercalava sua vida com o estudo de ciências, em Calulé.

Em 1966, mudou-se para Salvador e foi morar em uma pensão, onde conheceu Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão. Três anos mais tarde, eles se juntariam à cantora Baby Consuelo e ao guitarrista Pepeu Gomes, formando os Novos Baianos. O grupo fez sua estreia em 1969 com o show “Desembarque dos bichos depois do dilúvio”. Também em Salvador, Moraes se aproximou de Tom Zé, figura imprescindível para aproximá-lo do rock, ritmo que influenciaria diretamente sua trajetória, especialmente no carnaval.

No início dos anos 1970, os Novos Baianos se transferiram para o Rio de Janeiro, e foram viver juntos, em comunidade: inicialmente em um apartamento em Botafogo (onde foram visitados pelo cantor João Gilberto) e, mais tarde, em um sítio em Vargem Grande. Em 1972, o grupo gravou no Rio o álbum “Acabou chorare”, um clássico pós-tropicalista da mistura de música brasileira e rock. Em 2007, a obra ficou no topo da lista da revista “Rolling Stone Brasil” que reuniu os 100 maiores discos da música brasileira.

Depois de mais dois LPs com os Novos Baianos, Moraes Moreira resolveu deixar o grupo — àquela altura um símbolo da contracultura brasileira. A vida no sítio começava a ficar difícil. “Fui embora por causa dos meus filhos, Davi e Cissa. Como aqueles meninos iam se alimentar se os caras tomavam o leite deles no mingau da larica? Marília [mulher de Moraes] corria pra casa da mãe e ia ajeitando. Mas esse ajeitamento pela vida toda não dava, né? Foi foi um drama absurdo na minha vida”, disse Moraes em entrevista ao GLOBO em janeiro.

Em sua carreira solo, que começou em 1975, ele lançou mais de 20 álbuns e se consagrou nos carnavais do trio elétrico de Dodô e Osmar. Para a folia, compôs hinos como “Pombo correio”, “Vassourinha elétrica” e “Bloco do prazer”. Os Novos Baianos voltariam duas vezes, com Moraes. Em 1995, fizeram um show que rendeu, dois anos depois, o disco ao vivo “Infinito circular”. Em 2015, houve outra volta, com mais shows, um disco e DVD ao vivo e a promessa de um álbum de inéditas para comemorar os 50 anos do grupo.

Em 2007, Moraes Moreira lançou o livro de cordel “A história dos Novos Baianos e outros versos”, acompanhado de um CD que registra sua voz na leitura do texto e também de poemas inéditos e letras de sua autoria. A ligação com o universo dos cantadores nordestinos também foi explorada por ele em 2010, no livro “Sonhos elétricos” (reunindo cordéis, crônicas, letras de músicas e fatos de sua biografia), e no disco “Ser tão”, de 2018. No mês passado, Moraes chegou a fazer um cordel inspirado no coronavírus.

Vários nomes da MPB reagiram com pesar, nas redes sociais, à morte de Moraes Moreira. “Hoje se foi Moraes, grande artista e amigo!”, escreveu o cantor Zé Ramalho, no Instagram, ao lado de uma foto em que aparecia com o baiano e o amigo Fagner. Na mesma rede, o ex-Titãs Nando Reis disse: “Pedra rara de inspiração, compositor e violonista único de propriedades e estilos até então inimagináveis para aquilo que secretamente se suspeitava ser a vocação brasileira, Moraes é dono de uma obra divina.” Também no Instagram, Zezé Motta expressou seu luto: “Guardarei no meu coração cada momento com Moraes, ele não me deixou apenas [a canção] ‘Crioula’ de presente, mas toda uma história de vida, arte e música.”