A foto da capa do novo álbum, com crianças em meio à bagunça de um quarto, indica que alguma coisa mudou para a cantora americana Sharon Van Etten, de 37 anos. Musa do folk-rock indie com suas canções sobre complicações do amor, ela lançou no último dia 18 “Remind me tomorrow”, coleção de faixas que refletem as novidades de ter tido seu primeiro filho, de ter atuado em TV (nas séries “The OA” e “Twin Peaks”), de ter feito a trilha sonora para um filme (“Strange weather”, de 2016, estrelado por Holly Hunter) e de ter voltado à universidade para estudar Psicologia.
Quero tornar-me psicóloga. É algo que se alinha com o meu trabalho musical, já que minhas canções podem ser terapêuticas para outras pessoas — explica a cantora, por telefone.
Além de estarem estampadas na capa de “Remind me tomorrow”, as mudanças afetaram o próprio visual de Sharon, agora despojado e, de certa forma, roqueiro.
— Todas as estrelas do rock que eu amava, eu as vi dentro de mim quando acabei de fazer o disco. Quis mostrar aos meus fãs que eu continuo a mesma, mas que estou num lugar bem diferente agora — diz. — Estou me divertindo muito ao incorporar à minha performance essas influências. Patti Smith, Nick Cave, Bruce Springsteen… queria que todos eles lá na foto.
Nos singles que a cantora liberou antes de lançar o álbum — “Seventeen”, “Jupiter 4” e “Comeback kid” — deu para perceber outra grande mudança: a incorporação de um certo estilo sombrio de eletropop.
— Adoro música eletrônica, a seção de pós-punk na minha coleção de discos é grande — avisa. — O que eu acho mais interessante é poder mostrar aos fãs que eu tenho outros gostos. Adoro Glass Candy, Suicide, Bauhaus, Raincoats, Erasure, Devo… cresci nos anos 1990 ouvindo um monte de música sombria e queria que vissem que sou fã dessa música.
O novo som começou a tomar forma quando Sharon dividiu um estúdio com o ator e músico Michael Cera (seu colega em “Twin Peaks”), onde ele havia deixado um sintetizador e um órgão.
— Eu estava trabalhando na trilha de “Strange weather”, que era muito em cima de guitarra, e todo vez em que eu me sentia pouco inspirada eu ia para os teclados, usando os meus pedais de guitarra, e conseguia tirar uns sons maravilhosos — conta. — Aquilo me levou até a cantar de um jeito novo, como se eu estivesse reaprendendo a fazer música.
Na terça-feira, Sharon Van Etten começa nos Estados Unidos a turnê de “Remind me tomorrow”, que depois vai para a Europa, Austrália e Nova Zelândia.
—E aí vamos dar um jeito de ir à América do Sul — promete ela, que se apresentou no Brasil em 2015.
Há quem diga que o novo álbum tem grandes chances de levá-la, enfim ao mainstream. Mas Sharon diz não estar nem aí para a fama:
— Se por alguma razão esse disco está recebendo mais atenção do que os outros, é porque fiz escolhas inusitadas. Esse disco é meio esquisito, sabe? Se eu chegar ao mainstream, legal. Mas não sei o que significa estar no mainsteam.
* texto de Silvio Essinger
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