Pela primeira vez, o duo argentino Perotá Chingó veio ao Brasil, emplacando de cara sete datas pelo país. A expectativa era alta e o Circo Voador estava cheio em um dia de chuva quase inexplicável no Rio de Janeiro. Para a abertura da noite, Luiz Gabriel Lopes preparou o terreno de forma agradável. Para quem não sabe, as credenciais do rapaz são os trabalhos feitos previamente com o Graveola e que recentemente lançou o álbum Mana, elogiado pela crítica.

Pouco antes da meia-noite, Julia Ortiz e Dolores Aguirre sobem ao palco ovacionadas. Destilando Aguacero e Piel, que abriram bem a apresentação. A banda de apoio faz as camadas necessárias para o som intimista da dupla, mas sempre bem construído em cima de sutilezas pontuais. Para além da música, o duo é de uma simpatia ímpar e toda a comunicação é facilitada pelo português quase nativo falado pelas meninas.

O show é de ótimos momentos, mas todos os realmente grandiosos vêm quando se evocam um teor rústico, quase ancestral, na música do Perotá. Canções como Reverdecer (acompanhado de chocalhos de joelho apenas), a já citada Aguacero e La Copla/Vals de la Quebrada (com seu primeiro ato primoroso) trazem o verdadeiro sentimento que o Perotá Chingó quer evocar na sua arte: Um pertencimento e identidade sul-americana em sua essência.

Isso, é claro, não tira o brilhantismo de músicas com uma roupagem mais contemporânea dentro do repertório. Músicas como Certo, Peguei uma Chuva e Canción Pequena (essa última, em especial, de feliz composição) mostram que o duo viaja por várias roupagens, mas todas com o objetividade de se exaltar a latinidade tão presente em todos nós. Todo esse passeio é guiado de forma brilhante por Julia Ortiz, que domina (e usa) muito bem sua voz e casa perfeitamente com toda a firmeza e segurança de Dolores Aguirre, tanto no violão quanto também na voz.

Encerrando a apresentação com Rie Chinito (música que consagrou a dupla) e Inca Yuyo, o Perotá Chingó encerra sua primeira passagem pelo Rio de Janeiro não apenas mostrando uma musicalidade interessante, mas usando sua música também como ato de resistência sul-americana, de forma a usar a voz como um brado de resistência e pertinência a sua, a nossa, própria cultura.