Mais uma sexta-feira de clima quente no Rio de Janeiro e mais um show do Raimundos embaixo da lona histórica do Circo Voador. Com as aberturas escaldantes da banda Carranca colocando todo mundo pra treinar as rodas de pogo e com a Hey Ho! Brass Band tocando no meio da galera os clássicos do Rock em ritmo de fanfarra, a galera já estava pronta com a certeza de mais uma grande apresentação dos calangos da caatinga.

E não tem mistério: O show segue todos os padrões de outros shows do Raimundos. Tocando poucas músicas novas como Gordelícia e Bonita, a banda foca nos seus sucessos mais antigos, mas quem disse que isso não segura um show todo? Mesmo que o show da banda seja basicamente o mesmo há muito tempo, o quarteto mostra que ainda pode ser por bastante tempo, pois a galera (em um número um pouco menor do que o usual) ainda agita bastante e canta as música com vontade. Como pode ser visto em músicas como I Saw You Saying (That You Say That You Saw), Be a Bá e Palhas do Coqueiro.

Mas esse não é o único show que a galera dá. As rodas são um espetáculo a parte dos shows do Raimundos. A síncope destrutiva que a música batizada carinhosamente pela banda de forrócore causa na galera é digna de estudo pelos mais intelectuais. Sermões auditivos como Nega Jurema, Esporrei na Manivela e Cintura Fina destroem a coluna dos mais incautos no headbanging e o corpo dos mais direcionados a arte do mosh pit. Inclusive, os saltos do palco na galera não foram proibidos como em algumas outras bandas que parecem ter esquecido a sua identidade e são um capítulo a parte no show, desde gente fantasiada de cangaceiro subindo no palco até meninas para cantar a parte feminina em A Mais Pedida, o público é um grande mérito em todos os aspectos da apresentação.

Outro grande ponto alto da apresentação são os covers em versões características da banda. Canções incríveis como Vinte e Poucos Anos (Fábio Jr.), Lugar ao Sol (Charlie Brown Jr. E um grande ode ao legado da banda e dos músicos já falecidos) e Meu Lugar (Arlindo Cruz e um grande pedido de melhoras para um dos maiores intérpretes e compositores do samba nacional) engrandecem a apresentação de outras formas e mostram uma versatilidade de influências da banda que Digão, Canisso, Marquin e Caio executam de forma louvável.

Terminando a apresentação com o clássico Eu Quero Ver o Oco, o Raimundos sai louvado de mais uma grande apresentação no Rio de Janeiro e finca seu nome mais fundo na história do Rock Nacional como uma das maiores bandas do estilo de todos os tempos. Mesmo com todos os percalços que transpassaram a história da banda ao longo da sua caminhada, o grupo mostra que a tradição de sua música resiste inabalável acima de qualquer coisa e afirma sua importância por meio de uma resistência que é manifestada em forma de devoção por quem é fã. Vida longa aos Calangos!

Raimundos
21 de abril de 2017
Circo Voador, Lapa
Rio de Janeiro