Num sábado à noite, a banda italiana Rhapsody entraria num palco no Rio de Janeiro e tocaria seus últimos acordes para um público extremamente ansioso por, basicamente, três motivos: o primeiro é que seria executado o álbum Symphony Of Enchanted Lands na íntegra, o segundo porque levaria a sua formação original para essa missão e o terceiro, e mais triste, é que estariam de frente à sua turnê de despedida dos palcos. Ou seja, seria uma noite especial por vários motivos. Após a interessante abertura do Armored Dawn, banda paulista do mesmo segmento musical, os ânimos começaram a se animar pelo local, que também deve-se ao fato dos fãs que iam chegando conforme o tempo ia passando.

Exatamente às 22h, os italianos adentram ao palco da incrível introdução Epicus Furor para destilar quase duas horas do mais puro e indecente (num bom sentido) Power Metal em seu estado mais bruto. Com o começo sendo a dupla Emerald Sword e The Wisdom of the Kings, a galera não poderia ficar mais animada e feliz, abrindo de cara as famosas rodas de pogo, que já se mostravam incessantes desde o começo. O álbum, que data de 1998, é o segundo capítulo da saga “Emerald Sowrd” e as influências sinfônicas neste CD já se mostravam uma identidade da banda ao longo dos anos.

Com algumas outras grandes músicas mostrando as caras como Eternal Glory, Beyond the Gates of Infinity e The Dark Tower of Abyss (sendo essa última nunca tocada em território brasileiro e mostrando toda a influência neoclássica de Luca Turilli, em especial nessa música vinda de Vivaldi), o público respondia à altura com o que era tocado no palco. E como era tocado! A banda mostra uma segurança incrível em seus instrumentos, sendo os grandes destaques Luca Turilli com toda a genialidade neoclássica inserida no Power Metal e como fazer isso soar orgânico e não forçado e, é claro, Fabio Lione e sua incrível habilidade, segurança e alcance vocal. Cada nota deflagrada pelo italiano era uma aula de controle de voz.

Infelizmente, shows desse estilo ainda reservam momentos para solos de instrumentos. Então, tiveram vez, nesse show, o baixo e a bateria utilizarem desses recursos. Pelo menos as músicas que se seguiram dessas chatices egocêntricas foram as incríveis Land of Immortals (depois da bateria) e Dawn Of Victory (depois do baixo), encerrando assim a primeira parte do show e ainda sendo cantada pelos fãs após a saída da banda do palco, assim como Valhalla é para o Blind Guardian.

No segundo tempo do show, a banda volta já mostrando que quer fazer a sua última passagem pelo Rio de Janeiro valer a pena, e executa Rain of a Thousand Flames e Lamento Eroico, uma seguida da outra e sem dar descanso para os presentes. Nesse momento a casa vai abaixo, seja cantando com vigor os refrões épicos e grandiosos das músicas, seja batendo cabeça ou descarregando tudo nas rodas, os presentes mostraram que ainda era cedo para uma banda tão querida nos dizer adeus. Para não deixar por menos, Holy Thunderforce encerra o show e a banda sai ovacionada do palco no seu último suspiro por terras cariocas.

Sem dúvida, uma das bandas mais icônicas e importantes para o Power Metal foi o Rhapsody. E é Rhapsody assim mesmo, sem elemento natural nenhum ou a alcunha de músico atrelado ao nome. O que aconteceu no Vivo Rio, com toda a sua simbologia e importância, não deve ser alterado. Quem se apresentou lá foi o Rhapsody, na sua forma mais magistral e bruta, da forma como gostamos de ver. E o que se desenrolou disso tudo foi um encerramento histórico de carreira. Que os louros dessa vitória sejam colhidos por muitas outras gerações e que o poder dessa chama, com o perdão do trocadilho infame, nunca se apague.

Rhapsody
Vivo Rio, Rio de Janeiro
06 de maio de 2017