O mercado mundial da música pop ocidental é dominado, principalmente, por produções na anglófonas. Isso vem desde o estabelecimento de uma noção de “mercado da música pop mundial”. Sabemos bem disso porque temos acompanhado as investidas em língua inglesa de nossos artistas nacionais que visam visibilidade no exterior. Temos visto isso nas parcerias dos grupos de KPOP com artistas dessa língua, como Lady Gaga, Dua Lipa e Years & Years. Mesmo seus grupos têm adotado siglas e palavras em inglês como título, para reforçar esse objetivo.

A mesma estratégia serviu para artistas francófonos. Mesmo países como França e Canadá estando em posições privilegiadas para o mercado (enquanto parte da América do Norte e Europa), os falantes de língua francesa costumam deixar seu próprio idioma de lado. Exemplos são os franceses da banda Phoenix, da dupla eletrônica Daft Punk e a canadense Céline Dion (que, apesar de ostentar uma discografia bilíngue, tem seu reconhecimento internacional bastante voltado para as produções fora de sua língua natal). Mas o sucesso desses artistas incentivou um movimento diferentes para os artistas francófonos.

O “boom” do french pop.

Nos últimos anos – especificamente depois da explosão de Lisztomania, de Phoenix, e Alors on danse de Stromae, em 2009 – o denominado french pop tem tomado forma expressiva. Claro, a música em língua francesa nunca passou cem porcento batida: Quelqu’un m’a dit de Carla Bruni é um hino das novelas da Globo; o Hey Oh da dupla Tragédie fez barulho no início dos anos 2000 mesmo entre centenas de rappers estadunidenses. Mas a o que antes caracterizava uma série de “cantores de um só hit” hoje dá lugar a artistas que mobilizam fanbases mesmo em países que não compartilham sua língua natal. Como prova, ficam os milhões de visualizações nos clipes de ZAZ, Cœur de Pirate e Julien Doré. Mesmo os que transitam entre francês e inglês parecem encontrar mais aceitação do público, como a Christine and the Queens.

Em posts recentes aqui da Zimel, temos visto o trabalho de alguns artistas franceses. Alguns se aventuram pelo caminho anglófono, como Florent Dorin; outros botam língua natal para jogo, como caso do Rávages. Como exemplo de algumas mulheres que estão despontando no páreo como resultado dessa explosão, vamos conhecer Dynah e thaïs.

Dynah

“O pop é uma desculpa para falar de amor e sensualidade”. A cantora francesa Dynah, nascida Melody Linhart, gosta de criar as canções como poesia. Suas músicas alçam uma sonoridade cinematográfica, que criem imediatamente imagens mentais no ouvinte. Com um teor de simplicidade, seu single de estreia, Page Blanche, economiza palavras e aposta na melodia. Mas os apelos da cantora, sua projeção de desejos e esperanças – nos outros e em si mesma – ultrapassa a barreira da linguagem. Junto a isso, o videoclipe usa da universal linguagem da dança para reforçar as ideias sentimentais, passadas de forma tão bonita. Seu primeiro EP homônimo será lançado em Outubro.

thaïs

A canadense thaïs, por outro lado, é uma narradora. Enquanto sua música também evoca imagens, sua voz de algodão doce segue uma pegada mais indie. Seu mais recente single, por exemplo, foi inspirado por uma viagem à Islândia e reconta as memórias do lugar. Bóreal é nostálgica, eletrônica, etérea e solitária. Participando de uma estética mais “vintage”, aos moldes de Lorde e Billie Eilish, o trabalho de thaïs encontra seu lugar no indie pop com delicadeza e personalidade.

Além de Dynah e thaïs, muitos outros artistas estão procurando romper as fronteiras linguísticas do mercado com suas próprias identidades. Embora o processo seja demorado, o alcance do pop coreano é um exemplo de que a hegemonia anglófona pode estar em cheque. Talvez estejamos a caminho de uma democratização linguística maior no campo musical. Mas só o tempo dirá.